terça-feira, 8 de janeiro de 2013

"ÚLTIMA FLOR DO LÁCIO, INCULTA E BELA"



A necessidade do uso da língua passa pela função básica da comunicação entre os seres humanos. Mais do que o guarda-roupa ou a conta bancária nivela as pessoas, estabelecendo relações que ultrapassam as meramente físicas. A "conversa" entre pessoas que usam códigos diferenciados para se comunicar não se estende por muito tempo, logo se criam lacunas difíceis de preencher. Daí a busca por seus "pares", por aquelas pessoas cujo emprego da língua obedece a padrões semelhantes. Os olhos falam, sem dúvida, a mímica também ajuda, entretanto, chega um momento em que se quer "dizer" e "ouvir" alguma coisa, o que não é o mesmo que "falar" e "escutar".

Ler e escrever. Objetivos primordiais de toda a instrução escolar e que se deveriam manter ao longo da existência. O estudante não lê e escreve mal, quando escreve. Opera o computador, realiza cálculos difíceis, decora infinidades de nomes, fórmulas e conceitos, freqüenta aulas de inglês desde pequeno, mas se atrapalha todo no Português, que não é uma língua fácil, possui mais exceções do que regras e uma ortografia complicada. No entanto, é a língua oficial do Brasil e espera-se que os brasileiros dela façam (bom) uso para se comunicar.

É na Universidade que se solidificam os conhecimentos, até mesmo porque, nela, o estudante já tem uma consciência mais plena do que precisa e pretende em sua vida profissional. Pois bem, excetuando os cursos de Letras e alguns poucos dos quais a disciplina de Português figura nos currículos apenas em um semestre, a grande maioria dos acadêmicos não terá mais contato com a língua-pátria.

O resultado está aí. Só não vê quem não quer, ou não tem também conhecimentos suficientes para perceber as verdadeiras aberrações que profissionais das mais diversas áreas cometem em nosso pobre vernáculo. Médicos que titubeiam na hora de preencher um atestado, engenheiros aos tropeções nas cedilhas e dois esses, técnicos das mais diversas áreas engolindo acentos e salpicando vírgulas como se fosse orégano... que desalento!

Na alta competitividade do mercado de trabalho, a fluência no inglês tem sido prioritária. O profissional recém formado que não souber se expressar na língua de Shakespeare encontrará muitas portas fechadas, ainda que possua redação própria e uma cultura geral razoável. Depois, saberá ler com perfeição os manuais de produtos importados e pedirá socorro na hora de enviar um simples ofício a alguém.

Tecnologia de ponta, experiências nucleares, informatização irrestrita, tudo muito válido e importante, se for apoiado numa cultura mais ampla, que englobe a vida como um todo e estabeleça relações de solidariedade e parceria com seus semelhantes. Caso contrário, meros robôs programados para atuar em determinada área e totalmente despreparados para a complexidade desta existência terrena.

Além da competição instaurada (e estimulada!) entre os profissionais da mesma área de atuação, nota-se, nas grandes Universidades, certo menosprezo para com os cursos de Educação, motivado pelos baixos salários injustamente pagos a estes profissionais - como se construir uma ponte fosse mais importante do que formar uma turma de quarenta crianças ou adolescentes!

Só que os cursos que preparam professores costumam dar grande realce à língua materna e, nos contatos interpessoais que se estabelecem na vida pós-universitária, os alunos de Letras destacam-se dos demais na intimidade que adquiriram com a palavra escrita.

Profissionais competentes, reconhecidos em seu meio, respeitados - leiam! A boa leitura elucidará dúvidas ortográficas e gramaticais e possibilitará uma maior desenvoltura na hora de redigir. Sempre é tempo de resgatar o velho e bom Português! 




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