Hoje eu queria abraçar meu povo. Um abraço apertado, bem “aninhoso”, como meus filhos pequenos diziam, e dizer a cada um o quanto eu os admiro, o quanto lamento as perdas que vêm sofrendo e me solidarizar com todos.
Sofro junto com cada um que perde seus queridos, com cada um que adoece e fica morrendo de medo de não sobreviver, com cada um que perdeu o sorriso e vive apoiado em medicamentos para conter a ansiedade e conseguir dormir.
Morro de pena de ver meu povo todo mascarado nas ruas, crianças pequenas assistindo aula com o rosto coberto, todos os sorrisos enfaixados. E como eles fazem falta no mundo! Ao mesmo tempo, louvo a responsabilidade de quem nunca se imaginou usando máscaras e hoje não sai sem elas.
Fico indignada com os que teimam em não se mascarar e preferem correr o risco e expor os outros ao risco também. Esses estão na contramão e nunca irão se alinhar com os que procuram o fim dessa pandemia.
Os que se aglomeram e fazem festas clandestinas são os que sempre estão na contramão de tudo. Basta saber que encontram motivo para comemorar num país onde morrem mais de três mil pessoas por dia, muitos sem chance de tentar sobreviver nos hospitais superlotados. Enquanto os profissionais da Saúde se arriscam, chegam ao limite da exaustão e da tristeza, essas criaturas acham motivos para beber, dançar, festejar. Penso que pertencem a uma espécie sub-humana e não me reporto a eles neste texto.
Entristeço com quem entra em pânico ao espirrar ou tossir, com quem espera ansiosamente pela sua vez de tomar a vacina, com quem já está há mais de um ano confinado, sem se arrumar, sem passear, sem ir ao cinema, sem jantar fora, sem viajar e, sobretudo, sem ver seus queridos que vivem longe, ou que evitam se aproximar, mesmo morando perto.
A verdade é que somos uma geração massacrada por um vírus quase indomável e ainda não sabemos até quando iremos resistir e quantos ainda perderemos. Fomos pegos de surpresa, sem nenhum aviso prévio. De repente, nos encerraram dentro de casa, lotaram os hospitais e assim vivemos há mais de um ano, tentando resistir e não perder a fé e a esperança que tudo isso ainda vai passar.
Penso que as brigas políticas, tão prejudiciais, talvez sejam uma forma de extravasar, de gritar, de desafogar tanta mágoa represada com essa pandemia cruel, que arrasou nossa vida como um tsunami. Todos precisam gritar de alguma forma, protestar, se indignar com a mudança radical e para pior que aconteceu em nossos dias, que enterrou nossos sonhos, que destruiu nossos planos e transformou nosso futuro numa incógnita dolorida.
Eu queria poder visitar cada leito nos hospitais e dizer a eles que tudo vai passar e que eles vão se recuperar e voltar para os seus amados.
Seria bom poder acolher os que choram pelas perdas, os que não se conformam, os que morrem de saudade, os que precisam buscar forças para continuar vivendo.
Gostaria de acalentar cada profissional da Saúde, cada trabalhador dos hospitais, UPAs, ambulâncias, cemitérios e lhes dizer que falta pouco, que logo poderão descansar.
Hoje eu queria poder abraçar cada brasileiro, num abraço demorado onde nem caberiam palavras, apenas uma energia boa de um para o outro.
Uma energia bordada do que mais necessitamos agora – de ESPERANÇA!
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