17 de Junho de 1919. Há exatos 102 anos nascia em Alegrete a filha dileta de Eduardo Vargas. A primogênita que nunca superou a morte prematura do pai, aos 64 anos, e teve nele sempre o melhor amigo, o protetor, o ídolo.
Dona Odith, a mãe, não conseguiu que ela trocasse os livros e as bonecas de pano pela modista ou pela culinária. Eram muito diferentes de temperamento, embora hoje até se pareçam bastante em algumas coisas.
Dona Conceição... um doce de mulher que veio ao mundo para sorrir, ler muito, paparicar os netos e achar que todo mundo é bonzinho.
A companheira perfeita do Seu Ramos durante mais de cinquenta anos. Ele era apaixonado por ela e lhe dava razão em todas as encrencas que por desventura ela tivesse com a mãe ou com os filhos, ou com qualquer pessoa. Beijaram-se na boca até ele morrer, com 92 anos. E dormiam abraçadinhos.
O sorriso de dona Conceição misturou-se às lágrimas quando perdeu o pai querido, quase não sobreviveu ao perder o filho caçula, depois a mãe e o marido protetor. Mas os netos a reergueram com braços de abraços e bocas de beijos e ela voltou a sorrir.
A visão gastou nas letrinhas miúdas de leituras maravilhosas noite a dentro; as pernas cansaram de tanto atravessar a cidade até o Instituto de Educação Oswaldo Aranha todos os dias, onde foi Secretária por trinta e cinco anos, e os ruídos do mundo exigiram o reforço de um aparelho auditivo. Não foi simples para ela aceitar essas limitações, mas, mais uma vez, ela conseguiu!
Dona Conceição tomou as vacinas e passou a usar máscara ao sair de casa, protegendo-se da pandemia de Covid-19. Lamentou as visitas do neto médico que precisaram rarear e do filho e dos netos distantes. Seu consolo foi ter a filha e o neto do meio com sua família sempre presentes, sempre junto dela, sempre espalhando carinho e atenção.
Hoje é dia de festejar a vida! De agradecer pela saúde e por todo amor que recebemos dela!
Sua lucidez faz com que ela seja sempre a primeira a ler meus livros, hoje com o auxílio de uma leitora, a primeira a saber de tudo que acontece com cada um da família e a tentar entender o momento difícil que o Brasil e o mundo estão enfrentando.
Dona Conceição hoje vive em Florianópolis, para poder contar com o apoio e a presença da filha, dos netos e dos bisnetos, aliás, as bisnetas são puro carinho com ela, que vive com os braços cheios de bonecas para brincar com elas; entretanto, parte da sua alma continua lá na Mariz e Barros e nas ruas do seu, do nosso Alegrete.
Parabéns mãezinha! Sou imensamente grata a Deus pelos teus 102 anos e por te ter aqui com a gente, uma matriarca do bem e do amor imensurável por toda família.
Que venham outros aniversários com a casa cheia, do jeito que tu gostas!
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