quinta-feira, 19 de maio de 2016

POBRE CÃOZINHO TRISTE



                                  Dizem que amor nunca é demais. Será mesmo? Ou amor demais pode sufocar? Acontece com os humanos e também com os animais.
                                  O dono era um homem alto e corpulento. O cão um poodle médio, preto e com alguns fios brancos nas orelhas.
                                 Na primeira hora do dia, quando donos e cachorros fazem seu trottoir pela calçada em frente, preparando-se para passarem o dia todo sozinhos num apartamento à espera do passeio da noite, uma cena me chamou a atenção.
                               Eles chegaram num carro preto, fato já inusitado, pois sair de carro para defecar em outra rua, ao invés de usarem o passeio próximo à sua casa, causa estranheza. O homem com o cãozinho ao colo, manobrando o carro, como se o animal fosse seu copiloto e como muitos pais fazem com os filhos pequenos.
                              Ao invés de colocar a guia no cachorro e sair a caminhar com ele, como é de costume, ele passeava com o cachorrinho ao colo e, de vez em quando, o largava um pouquinho no chão para ver se ele fazia suas necessidades. Nesses momentos, percebi que o cão era perfeito, podia caminhar e ficava com olhos tristes e orelhas murchas cada vez que o dono o recolhia do chão.
                              Um excesso de alisar, de apertar e o cãozinho de olho espichado para os outros cães, que saltitavam à frente dos donos, corriam, cheiravam o que deviam e o que não deviam, eram cães e não bebês de colo.
                             Minutos depois, com seu cão bem apertado debaixo do braço, o homem retornou ao carro, sentou ao volante outra vez com o cão no colo e partiu, deixando como última visão o olhar comprido e triste do cãozinho para a minha schnauzer, que se requebrava diante do portão, apostando corrida com o lhasa apso do vizinho.
                             A carência afetiva do dono certamente cerceava seu animal, imagino que nem em casa o bichinho tenha sossego e precise servir de consolo o tempo inteiro para um dono incapaz de cativar os seus iguais.
                              Nesse caso, amor pode ser demais sim e quase tão nocivo quanto o desamor, uma vez que tolhe, cerceia, inibe, como água ou sol demais numa planta.
                               O segredo, para tudo, é a medida.




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