Não faz muito tempo que os professores se formavam sem a menor noção de como trabalhar com alunos especiais. Eu mesma tive alunos surdos no Ensino Médio e perdia o sono tentando encontrar a melhor forma de me comunicar com eles nas aulas, sem que tivesse recebido nenhuma noção de LIBRAS, mesmo tendo me formado com Licenciatura Plena em Português e Inglês e continuado a estudar por mais dez anos nos cursos de Pós-Graduação.
Quando lecionei na Universidade, tive um aluno cego, que assistia as aulas com seu cão guia ao lado da carteira e eu penava para descrever a ele o que estava nos quadros, nos vídeos, nos livros. Felizmente, eles conseguiram se formar, no entanto, não foi fácil, nem para eles, nem para mim.
O magistério está sempre sendo colocado à prova, precisando se reinventar, improvisar, criar formas de desempenhar suas funções e fazer jus ao salário miserável que recebe. A inclusão de alunos especiais, com peculiaridades que exigem um tratamento diferenciado, colocou muitos professores à beira de um esgotamento, diante de uma turma cheia de crianças e com algumas crianças precisando de uma atenção particularizada.
Então veio a pandemia. E os professores tiveram que novamente se reinventar, dar aulas em casa, sem estrutura alguma, muitas vezes com um celularzinho limitado e pouco espaço físico. É sabido que professores não são ricos, nem moram em grandes casas. Além disso, eles precisaram preparar apostilas para distribuir aos alunos sem internet em casa. E tudo com seus parcos recursos. Luz, internet, impressão, material didático, enfim, suas despesas só aumentaram. E ainda foram muito criticados. Como se o fato de continuarem recebendo seu salariozinho fosse uma dádiva imerecida. Note-se que esse sacrifício todo não foi por um mês, mas por um ano! E continua. Agora, com as escolas reabrindo, eles ainda correm o risco de adoecer e infectar seus familiares, porque vacina para eles não tem nem previsão.
E os alunos, como se comportaram? Muitos acessavam a sala de aula e voltavam a dormir, outros passavam a responsabilidade para a mãe ou para os irmãos mais velhos. Alguns levaram a sério e aproveitaram ao máximo, no entanto, a saudade da escola e dos colegas foi a tônica desse ano atípico. Professores e alunos tiveram um gasto extra, nesses tempos de pouca grana, com internet, lanches o dia todo e ainda ventiladores e ar condicionado para suportar os meses de verão encerrados em casa.
Uma história me comoveu e quero citá-la para servir de motivação e exemplo a tantos estudantes. Um menino de quinze anos, no primeiro ano do Ensino Médio, vivendo na zona rural de Alenquer, no oeste do Pará, só conseguia o sinal da internet em cima de uma mangueira. Nem a antena que seu pai, agricultor, comprara deu jeito dele poder acompanhar as aulas. Só em cima da mangueira ele e o irmão tinham possibilidade de ouvir os professores. Pois eles construíram uma escada, um banco de madeira em cima da árvore e até um suporte para colocar o celular. E estudaram! O professor falou que o menino acertou todas as questões na primeira prova deste ano. À tarde, ele ajuda o pai na roça. E quer se formar em Agronomia para entender mais e melhor da terra.
Nem tudo está perdido enquanto houver jovens como este!
Graças a Deus!
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