segunda-feira, 24 de maio de 2010

MELANCOLIA

                   Deve ser um pouco por conta do clima, afinal , chove todo dia e o Outono ainda não se decidiu. Estamos ficando especialistas em chuva: chuva forte, fraca, garoa, com vento, com raios e até com sol. É verdade, já vi gente andando com óculos escuros e sombrinha.
               Explicada a chuva, mais difícil será descrever essa onda melancólica que me inunda em plena terça-feira. E o que é um dia de semana para um aposentado? Apenas mais um dia de cuidar dos outros.
               Estive há pouco parada na janela, olhando as pessoas passarem ligeiro, provavelmente atrasadas, saltos repicando o chão da calçada, cabelos molhados, guarda-chuvas abertos. Lembrei , mais uma vez, de mim; atrasada para a escola, cheia de livros e um gosto de manteiga na boca. Ou, mais tarde, brigando com os sinais fechados a fim de chegar na escola para a primeira aula.
               Ás vezes, como hoje, sinto-me desperdiçada, sabendo que teria muito ainda o que ensinar, o que fazer pelos outros e por mim mesma. Assisto entrevistas de pessoas ligadas ao governo mais velhas do que eu e empreendendo, cheias de planos, necessárias. Vejo Bibi Ferreira, Charles Asnavour, quase centenários, em plena atividade  e me envergonho de trabalhar apenas com os neurônios domésticos.
               Claro que posso tocar piano, até concluir meu curso inacabado. Posso também fazer aulas de dança, já que dançar sempre foi uma das minhas grandes paixões. Posso escrever meu romance, apesar de que escrever é ainda a única coisa que  faço com frequência. Só que tudo isso, talvez por servir apenas para mim, me parece tão pouco! Minha cabeça foi treinada para servir aos outros, à comunidade, à sociedade, à humanidade e não apenas a mim mesma.
                 Aposentei-me e me dediquei a cuidar da Bruninha. Não me arrependo, foi muito bom para nós duas, para a família toda. Dois anos depois, com a pequena iniciando meio período na escolinha, não cheguei a traçar novas diretrizes, depois cuidei da Alice, sempre da minha mãe e a falta de uma vida minha às vezes me tolhe um pouco. Preciso reagir se não quiser deixar esta melancolia crescer e se transformar em depressão.
                 Deve ser o clima, a mudança de estação, a saudade do filho distante...
              Daqui a pouco passa, mergulho no livro que estou lendo, passo os olhos nos jornais (melhor nem saber!), penso nas boas novas que tenho recebido , finalmente um tempo de colher depois de tanto plantar minha literatura e, se a tendinite deixar, faço o serviço doméstico. Com tanta roupa pra lavar, não há melancolia que perdure.
          
                 Agora, se pudesse caminhar na praia... ou na praça de Alegrete... quem sabe na Europa...  aí sim!



Um comentário:

Celina disse...

OI QUERIDA, ESTOU AQUI ,LÍ O SEU POST MUITO BEM ESCRITO COMO SEMPRE, AS VEZES TENHO VONTADE DE DEIXAR UM COMENTÁRIO, VC SABE QUANTOS ANOS EU NÃO ESCREVO NADA? FAZIA MAIS DE VINTE ANOS SÓ FAZIA NOTAS DE COMPRAS DE SUPER MERCADO. ME ACOMODEI, O TELEFONE RESOLVIA. SÓ NÃO FIQUEI COMPLETAMENTE ANALFABETA POR GOSTAR DE LER MUITO, A CONSELHO DO MEU FILHO COMPREI NOTEBOOK E RECOMECEI A APRENDER, DIVERSAS REFORMAS PASSOU A NOSSA LINGUA, MAIS O QUE VALE AMIGA É A VONTADE DE CONVERSAR COM ALGUEM QUERIDO VC É ISSO PARA MIM ,LEIO TUDO QUE VC ESCRVE.UM ABRAÇO COM CARINHO CELINA;