segunda-feira, 2 de agosto de 2021

AEROPORTO GAUDÊNCIO RAMOS

 

                    Ele nasceu em Uruguaiana, a 12 de julho de 1907. Foi o filho mais velho de nove irmãos e, por isso mesmo, o que recebeu precocemente mais responsabilidades, tornando-se mentor e protetor dos irmãos pela vida afora.

                   Criado na campanha, lá pras bandas do Itapitocai, frequentou apenas os anos fundamentais da escola e depois adquiriu vasta cultura através de leituras e estudos de autodidata. Foi, inclusive, poeta e escritor, sendo redator do jornal mais antigo do Rio Grande do Sul – a Gazeta de Alegrete. Tinha uma extensa biblioteca e estava sempre lendo algum livro, além dos jornais diários.

                  Funcionário concursado da Exatoria Estadual, aposentou-se assim que completou seu tempo de serviço, para poder se dedicar em tempo integral à sua maior paixão (junto com a Conceição) – os aviões.

                   Foi Instrutor do Aeroclube de Alegrete por muitos anos (até os 80 anos), brevetou inúmeros alunos, inclusive alguns que depois ingressaram em grandes companhias de aviação do Brasil e do exterior.

                Presidiu também o Aeroclube de Alegrete durante várias gestões, foi diretor técnico e passou lá naquele hangar e naquela pista certamente o tempo mais feliz dos seus dias. Seu Ramos não tinha carro próprio, comprou seu Fiat 147 já numa idade avançada, mas possuía um avião de quatro lugares com o qual fazia táxi aéreo.

                Diariamente, pegava a lendária caminhonete Ford F-1 do Aeroclube, acompanhado do seu inseparável cachorro Teco-Teco e rumava para o campo de aviação, com a carroceria cheia de alunos e mecânicos. De merenda, levava apenas um pouco de café e uma bolacha torrada. Voltava com o macacão sempre cheirando a gasolina e óleo e com muitas histórias para contar, enquanto tomava seu mate com a “consorte” (como ele brincava).

              Reconhecia o modelo dos aviões apenas pelo ronco do motor, quando sobrevoavam sua casa.

                Responsável, exigente, cauteloso, era amado e respeitado pelos alunos. Cruzou a América pilotando um avião monomotor e nunca se acidentou. Por tanto tempo de dedicação à aviação e por ser o piloto mais antigo em atividade no país, foi agraciado com a Medalha Santos Dumont. E por tantos serviços prestados à cidade recebeu o título de “Cidadão Alegretense”.

               Uma operação de catarata, realizada na capital, resultou num glaucoma secundário, que fez o lendário piloto perder a visão e não permitiu mais que o Comandante Ramos visse o azul do céu e as letras dos seus aviões.

                  Suportou heroicamente a cegueira e a dependência dos outros para quase tudo, mas continuou ouvindo o ronco dos aviões, que ainda o acompanharam em cortejo, chorando nas nuvens, até sua última morada, no dia 30 de outubro de 1999.

                Quando o Aeroporto foi inaugurado, ainda sem nome, Seu Ramos estava presente, já sem poder enxergar. Não deve ter sido fácil para ele..., no entanto, ele era pequeno apenas de estatura, pois tinha um caráter gigante e não se entregava, nem se deixava abater.

                Depois da sua morte, várias entidades alegretenses, encabeçadas pela Maçonaria, se mobilizaram para dar seu nome ao Aeroporto, numa justa homenagem a quem dedicou sua vida à aviação alegretense e deixou tantos seguidores.

               A deputada Maria do Rosário criou um Projeto de lei, sugerindo seu nome para o Aeroporto em 2003 e em 2007 saiu finalmente a aprovação da Lei n° 11624, de 20/12/2007, sancionada pelo então presidente Luís Inácio Lula da Silva, denominando o aeroporto de “Aeroporto de Alegrete/RS - Gaudêncio Machado Ramos”.

                De alguma janela do Céu, certamente alguém estará assistindo a inauguração do aeroporto, agora reformado e finalmente colocado em atividade por lideranças municipais e estaduais. Uma conquista que trará benfeitorias e agilidade para o povo da fronteira oeste.

                 Pelo sorriso discreto e o brilho de orgulho naqueles olhos castanho-esverdeados, posso jurar que é ele que espia – o Comandante Ramos - meu pai!


 

 

6 comentários:

Euzebius Severo disse...

Merecidas palavras a este homem de grande ideal e força de vontade. Não convivi com ele, mas o conhecia. Era pai de nosso colega Dadinho e esposo da dona Conceição do Oswaldo Aranha. Homenagem muito justa a este ilustre e valoroso cidadão. Parabéns à família. É um grande orgulho a seus descendentes!!!!

Unknown disse...

Parabéns amiga, parabéns ao seu Ramos pela perseverança em lutar pelo seu ideal. Justa homenagem.

Unknown disse...

Parabéns a família, que tenho a alegria de conhecer!
Muita admiração e carinho, por esse legado, que inspira e reverbera além de Alegrete!

Cristiano disse...

Emocionante! O texto, a homenagem, a vida, as lembranças do MEU avô. Parabéns mãe pelo texto, e parabéns vô pela justíssima homenagem.

Milton Jacques disse...

Merecida homenagem , muito melhor que um cartão de ouro. Pena não ser em vida .muito nos orgulhamos do Seu Ramos .

Unknown disse...

Foi um grande homem,reconhecida homenagem.