Embora a gente já nasça sabendo que vai morrer, nunca precisamos encarar a morte tão de frente como agora.
Nós, pobres seres humanos, não nos preparamos para uma pandemia. Nem os cientistas, nem os médicos, nem os hospitais, nem os gestores, ninguém.
Estávamos levando a nossa vidinha sossegados, fazendo planos, brigando por política, juntando uma poupancinha para viajar, casando, tendo filhos, recebendo os netos, estudando para o Vestibular, tentando concursos públicos, fazendo música, escrevendo livros, abrindo lojas, mudando de ramo, comprando casa, trocando de carro, experimentando roupas e sapatos, mudando de emprego, fazendo ginástica, adiando visitas, fazendo check-up, comendo em restaurantes, preparando drinks, namorando, separando, dançando, curtindo a vida como se fôssemos eternos e nada pudesse nos desestabilizar.
E a Covid-19 chegou! Primeiro lá longe e depois pegou os mesmos voos dos turistas e viajantes e se instalou por aqui. No começo, os brasileiros assistiam assustados a situação dos países da Europa, num desespero de doentes e mortos, com hospitais lotados, ruas desertas e o medo de que acontecesse o mesmo aqui começava a crescer. Nada que impedisse o povo de se aglomerar, de curtir o Carnaval, de lotar os estádios de futebol, shows e grandes festas.
Depois, algumas regiões do país começaram a apresentar aumento no número de doentes, enquanto em outras a situação ainda era de tranquilidade, ou quase.
No prazo de um ano o caos chegou com força total por aqui e aquele número de mortos começou a receber nomes. E de gente conhecida, amigos, parentes. Todas as regiões do país colapsando na Saúde e as vacinas sendo distribuídas em doses homeopáticas, de conta gotas, caixinha por caixinha, e o povo desesperado, sem saber como se cuidar mais, invejando os outros países que planejaram com antecedência para salvar sua gente. Falta oxigênio, faltam insumos, faltam medicamentos, faltam leitos, faltam profissionais que entendam de UTI e entubação de pessoas, enfim, um caos anunciado por muitos infectologistas, por sinal.
Fecha tudo. Abre tudo. Fecha um pouco. Libera isso ou aquilo. E os irresponsáveis fazendo festas clandestinas e voltando para casa para contaminar a família toda. Gente desempregada, gente passando fome, gente revoltada, gente metendo a política sempre no meio de tudo, gente sem máscara, gente sem coração, gente má infectando os outros por ruindade, gente que não respeita os protocolos, gente que não acredita na ciência, gente que desafia os perigos e depois vai chorar na porta dos hospitais e, no meio disso tudo, os heróis anônimos, os mártires da pandemia, os profissionais da Saúde que receberam um castigo tremendo de passar dia e noite no meio dos doentes, muitas vezes se infectando, morrendo, contaminando seus familiares, ganhando pouco, trabalhando demais, exaustos, muitos mal preparados e ainda recebendo críticas. Sem falar na dor de ver a morte com tanta frequência e quase não conseguirem salvar as pessoas, por ser uma doença nova, sem tratamento específico e devastadora.
Nada é tão ruim que não possa piorar. Agora, esses pobres médicos ainda precisam bancar Deus e escolher quem vai viver e quem terá que ser deixado para morrer. Jovens, sem doenças e com uma expectativa de vida maior têm mais direito aos leitos de UTI e aos respiradores do que aqueles que nem saíam da casa, ficaram um ano reclusos, muitas vezes tendo sido contaminados pelos mais moços da família e agora irão se despedir da vida sem abraçar os netos ou terminar o que vinham fazendo. Triste missão desses profissionais que estudaram tanto para salvar vidas e não para abreviar a vida de ninguém.
Que isso tudo tenha fim o quando antes!
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