sábado, 5 de setembro de 2020

NINGUÉM ESTÁ PREPARADO PARA MORRER!

 

                        Acredito que nem os suicidas estejam. Eles agem por impulso e sabem que até no meio do caminho podem se arrepender, só que às vezes é tarde demais.

                        Talvez quem sofra de uma doença terminal, sem chance de cura e sentindo muitas dores, até prefira se libertar, mas apenas esses.

                        Nessa pandemia que o mundo vive, muitos tomaram providências práticas, fizeram testamento, organizaram os papéis para dar menos trabalho à família, tentaram se preparar para o pior. Acontece que, no fundo, fizeram tudo quase convictos de que não passariam dessa para pior. Pelo menos não agora.

                        Eu mesma fiz isso, porque não pude me isolar e precisei conviver com muitas pessoas, de outras casas, na casa da minha mãe. Sempre soube que contava com a sorte e a proteção divina para não me contaminar. Fora dali, na minha casa, fiz tudo como mandava o figurino, até exagerei em alguns tópicos, todavia, minha mãe não aceitou passar seu 101º ano de vida solitária ou mal atendida, então, deixamos tudo como estava.

                        Depois de seis meses nesse alerta constante, agora comecei a dar defeito, tendo insônia, taquicardia, ansiedade... e dias atrás até me apareceu uma febrezinha. Ainda baixa, mas, na atual conjuntura e sem motivo aparente, sempre preocupante.

                      E agora?!

                      Logo pensei, entre um turbilhão de sentimentos, nos livros que escrevi este ano e que ainda não recebi da editora.

                      E a nova netinha que ainda nem chegou?

                      E os sonhos e planos adiados?

                      Olho para o armário dos meus livros e sinto muita pena. Tão bonitos e alguns ainda sem chegarem aos leitores.

                     Penso nas minhas roupas preferidas que este ano quase nem tive ocasião de usar, sempre em casa.

                     E as minhas violetas e orquídeas, cuidadas com esmero e que estão desabrochando recém agora?

                    E a cristaleira cheia de troféus e relíquias de valor imensurável para mim?

                     Quem cuidará da minha mãe e irá gerenciar aquela microempresa de colaboradores que ela tem?

                     E o marido, dá uma pena deixá-lo sozinho...

                     Nos filhos e netos nem é bom pensar, para não desandar de vez.

                     Não, ninguém está preparado para morrer!

                      Meu sobrepeso, nessa quarentena e no distanciamento da academia, se transformou em obesidade. Junto com a minha idade é mais um fator de risco para essa Covid miserável. As toneladas de vitaminas certamente contribuíram também para o acréscimo no manequim.

                     Ah, não é culpa do Bolsonaro (é bom deixar avisado), porque eu não costumo imitar ninguém, embora ache que ele deveria ser mais solidário com as vítimas desse coronavírus.

                    Quando pensamos em partir, a impressão que temos é que deixaremos uma vida pela metade, apesar de já termos passado bem dos sessenta anos.

                    Passei dois dias com uma febrícula. Ainda não tinha feito nenhum teste. Não sabia se era mesmo o maldito coronavírus, então transmitido por alguém assintomático.

                    E se fosse? Não sabia se teria a forma branda ou a forma grave da doença, se precisaria ser entubada e se morreria. Tudo era possível. Os médicos ainda sabem tão pouco sobre esse vírus.

                     Mas não me sentia preparada. Acho que ninguém fica.

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                     Fiz o teste molecular – RT- qPCR – e deu NEGATIVO.

                     A febre sumiu como veio, em dois dias.

                     E eu pude continuar escrevendo e sonhando.


 

 

 

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