Não, não me venham com frases feitas, dizendo que é tudo uma
questão das nossas escolhas. Nada disso!
Raras vezes temos a opção de escolher, geralmente somos levados num torvelinho
que nem sabemos aonde vai parar, empurrados daqui e de lá, atendendo a gregos e
troianos, pegando as migalhas que caem em nosso prato, sem jamais nos saciarmos
e sempre adiando para uma outra encarnação a concretização dos sonhos mais acalentados
e mais difíceis de realizar.
Meus professores achavam que eu deveria ser advogada, afinal
fui líder de turma em todos os anos que estudei e oradora em todas as
formaturas, do Jardim de Infância à Universidade.
Eu queria ser médica e só tirava dez em Biologia, de tanto
que gostava. Matriculei-me no Científico e meus pais me chantagearam para fazer
junto o Curso Normal e lhes dar “de presente” o diploma de professora primária,
até porque meu pai disse que eu não sairia de Alegrete para estudar, pois as
moças só iam “se soltar” em Santa Maria ou Porto Alegre e que eu deveria
escolher um curso que tivesse na minha cidade. Entre Letras e Economia, a
escolha foi óbvia. Mas as opções, convenhamos, eram bem restritas.
Nunca pude ir a uma festa à noite antes de debutar, aos
quinze anos. Casei virgem com dezoito anos. Meu vestido de debutante anda
estava novo e servia perfeitamente, poderia até ter usado o mesmo...
Há quem me rotule de quadrada, certinha, de direita demais.
Como não ser? Meu pai era da UDN e as regras na minha casa eram muito rígidas.
Liberdade só para ler e estudar bastante. Mesmo assim morro de saudades daquele
tempo...
Eu queria conhecer o mundo, viajar para tantos lugares,
conversar em diversos idiomas com gente interessante, que tem o que dizer!
Deve ser muito bom comer quando se sente fome e dormir
quando se tem sono, ao invés de cumprir horários rígidos e estar sempre achando
que passou da hora e vai se atrasar.
Ser dona dos meus dias, do meu tempo é uma sensação ou experiência
que nunca tive, pois há sempre alguém à minha espera, dependendo de mim para alguma
coisa. Primeiro os alunos, os filhos, o marido, os pais e depois os netos.
Nascemos e morremos sós. Alguns passam pela vida também
sozinhos, muitas vezes numa solidão asfixiante, sem ninguém para compartilhar o
bom e o ruim, nem mesmo para receber a correspondência num prédio sem porteiro.
Na velhice, sobrevive melhor quem partilhou a vida, pois
terá mais gente para lhe tomar conta e para segurar as alças do caixão. É a compensação
pela individualidade sufocada no seu tempo na terra.
Raramente são escolhas, opções. Poucos escolhem viver sós ou
acompanhados, as coisas simplesmente acontecem.
Numa dessas voltas da caminhada, entre triunfos e frustrações,
a gente senta numa pedra no meio do caminho, olha pra trás, respira fundo e se
pergunta:
- O que é a vida afinal?!
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