segunda-feira, 17 de agosto de 2020

SEM DOURAR A PÍLULA!

                    Estou cansada do politicamente correto, das palavras de autoajuda (que ajudam pouco) e do faz-de-conta que já não convence ninguém.

                     Somos adultos, considerados “idosos” inclusive e a última parte da nossa vida foi assaltada por essa pandemia. Quando devíamos colher os frutos, babar os netos, concretizar os últimos sonhos, realizar as viagens tão programadas, nos prenderam em casa com o aviso de que a proximidade com as pessoas que mais amamos poderia nos matar.

                      Então vieram os paliativos: aulinhas on-line, dicas de leitura, chamadas de vídeo, sempre nos garantindo que seria por pouco tempo e que tudo iria passar. Então lemos, escrevemos, fizemos faxina, cozinhamos, arrumamos armários, tentamos fazer ginástica, assistimos dezenas de filmes e séries na TV e no começo até que foi divertido. Depois cansou.

                 Cinco meses de cativeiro e os cientistas agora prometem vacinas para o “próximo ano”, como se os meses que faltam para terminar este ano já não contem mais. E sem dizer quando as benditas vacinas chegarão até nós, sulistas de um país de terceiro mundo. Muita água passará por debaixo dessa ponte antes que sejamos lembrados e vacinados.

                   Enquanto isso... amigos, escritores, poetas, médicos, enfermeiros, gente produtiva ou que merecia colher os louros de uma vida produtiva, vai morrendo...quem sobreviverá até chegar a prometida vacina?

                    Vivemos apavorados, temendo cada tosse, cada espirro, cada notícia dos seres que amamos, como se fosse só uma questão de tempo para alguém contrair o vírus tenebroso.

                    A pandemia não nos tornou melhores e muito menos “iguais” como alguns apregoam. Aliás, aprofundou as diferenças e ressaltou as particularidades, positivas e negativas, de cada um.

                    Como considerar “iguais” quando uns se isolam em grandes propriedades ensolaradas, outros em mansões à beira-mar, ou coberturas com churrasqueiras sempre fumegantes, enquanto outros se amontoam em cubículos com a geladeira e as panelas vazias e ainda cheios de culpa por irem ao banco sacar o auxílio emergencial e aplacar a fome?  Que igualdade é essa?!

                    Alguns poucos se arriscam para tentar levar o mínimo necessário aos mais carentes. Estes são os bons.

                    Outros desafiam as recomendações, penduram uma máscara suja no pescoço e vão se juntar aos seus iguais, tripudiando e contaminando meio mundo. Estes são os maus.

                    Porque, seja em situação normal ou numa pandemia caótica, cada um é o que é. Não melhora.

                   Sem falar nos que desviam o dinheiro dos medicamentos e equipamentos necessários para salvar vidas. Sem pejo ou arrependimento. Estes são os bandidos.

                   Alguns pais aproveitam o confinamento e o ensino à distância para se aproximar mais dos filhos, ajudá-los nas tarefas escolares, conhecê-los melhor.

                   Outros xingam diariamente a escola e os pobres professores, batem nos filhos e não veem a hora de mandá-los para a escola, com ou sem vacina, para poderem se livrar deles.

                    E quem não suporta “lives”, nem “drive-ins”?!

                    A verdade é que os jovens precisam viver, estudar, se divertir!

                    As crianças precisam ir para a escola, brincar nas praças, passear nos shoppings.

                    Os idosos têm que continuar quietinhos em casa, sem receber visitas, sem ir para a academia, sem se exercitar e, se morarem em apartamento, sem nem tomar sol. Claro que seus movimentos ficarão ainda mais lentos, que seu corpo ficará mais pesado e seus olhos mais tristes. Mas não tem o que fazer. Não é possível parar a vida das novas gerações por conta de quem já passou dos sessenta. Enquanto não surgir a esperada vacina e enquanto não chegar a sua vez de ser vacinado, o idoso vai ter uma vida à parte, uma vida sem vida, sem sorrisos de crianças, sem abraços de filhos e netos.

                     Parece um novo Dilúvio selecionando as pessoas que continuarão a habitar o mundo. Um mundo quase sem livros, sem poesia, onde tudo tem que ser considerado “normal” e até uma pessoa nua deve ser considerada arte. Um mundo sem passado, sem história, sem valores, sem a experiência que vem com os cabelos brancos, onde tudo é efêmero e a sabedoria toda do mundo deve caber dentro de um telefone celular.

                    A pandemia não mudou a essência das pessoas, mas mudou tudo, para todos. E aqui estamos nós, dentro dela, sem aviso prévio. As futuras gerações lerão nos livros, ou nos computadores, mas nós estamos vivenciando essa catástrofe que se abateu sobre a nossa vida e sofrendo com ela.

                   Como disse alguém:

                   “Eu não aguento mais ser testemunha ocular da história! ”

 

 

 

 

Um comentário:

Ana Luiza disse...

Não vou ficar enfurnada em casa só acompanhando estas noticias que são verdadeiros noticiários de terror, a medida do possivel tento levar na normalidade,sendo que o normal é esta rotina sem nenhuma perspectiva.Não quero ser pessimista,mas também não quero que passe sem ter um resultado positivo.