Será que existe um tempo certo para tudo? Penso que sim,
pois, sempre que tentamos fazer algo que deveríamos ter feito em outra época
nos tornamos inadaptados, cansados, estressados e até ridículos.
Sempre procurei viver com intensidade cada etapa da vida,
dentro das limitações impostas pelo meu pai, depois pelo marido e mais tarde
pelos filhos. Assim, uma liberdade assistida.
Curti muito o tempo de subir em árvores, de comer fruta
verde no pé, de pular corda (e muros), de decorar a tabuada, de ver filme de
mocinho no matiné das 13h e os filmes lindamente açucarados da Sissi na sessão
das 16h, aos domingos.
Tempo de ler Monteiro Lobato e de me tornar romântica lendo
a Coleção Rosa e os livros de Madame Dupré.
Tempo de namorar, ficar de mãos dadas no cinema, beijar,
dançar, cantar, tocar piano, representar, desfilar, ser líder de turma,
destaque na educação física e corajosa na política estudantil.
Tempo de fazer dietas “milagrosas” e alisar os cabelos com
ferro quente de passar roupa.
Tempo de desabafar nos Diários e suspirar de amor ouvindo os
discos da Jovem Guarda e da MPB.
Tempo em que JAMAIS a moça poderia convidar o rapaz para
dançar e só lhe restava cruzar os dedos, caprichar no flerte e suspirar,
torcendo para o eleito chegar e tocar seu ombro na mesa do baile.
Depois, veio o tempo de casar, engravidar, trazer bebês ao
mundo, amamentar e aprender dia a dia como cuidar melhor deles.
Um tempo de trabalhar muito, viver correndo, pular da cama
antes do dia nascer e desabar nela, exausta, à noite. Era tempo de ganhar
dinheiro, economizar, adquirir bens, mantendo bem firmes e na direção certa as
rédeas amorosas dos filhos adolescentes.
Chegou, então, o tempo de começar a realizar as viagens dos
sonhos, querendo sempre mais.
Tempo de encompridar as saias, folgar as blusas, diminuir a
maquilagem e os saltos dos sapatos.
Tempo de rezar mais e cuidar melhor da saúde.
Tempo de ver os filhos desabrocharem e começarem a viver sua
própria vida.
E chegou o tempo de aposentar, puxar um pouco o freio, fazer
as coisas mais devagar, ouvir melhor, dar mais atenção às pequenas coisas.
Tempo de ler mais, de assistir mais filmes, de ir mais ao
teatro do que aos bailes e baladas, de comer e beber com mais parcimônia, de
abandonar definitivamente o cigarro (se ainda estiver vivo para fazê-lo).
Cada um sabe de si e deve viver como melhor lhe aprouver.
Muitos tentam resgatar, tardiamente, as etapas que pularam na época certa e se
lançam cegamente numa curtição muitas vezes inadequada e perigosa.
Eu penso que há tempo para tudo. Com flexibilidade, mas não
muita.
No momento, meu tempo é de escrever e publicar meus livros,
além de ler cada vez mais, aproveitando o tempo que hoje me sobra e já foi bem
restrito.
Afora isso, sinto que estou vivendo plenamente meu tempo de ser avó!
2 comentários:
Com certeza, todos passamos por fases, no momento estou vivendo à dois pois com os netos crescidos, só o de 5 que é o bbzăo.Confesso que gosto, tenho tempo de sobra para tudo.Meus filhos moram no interior, e o neto mais velho faz faculdade em Poa.
Livro do Eclesiastes (do grego, o que fala à assembleia), capítulo 3 - Tudo tem seu tempo - versículos 1 a 8:
"Todas as coisas tem seu tempo... Há tempo de nascer e tempo de morrer. Há tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou. Há tempo de matar e tempo de sarar. Há tempo de destruir e tempo de edificar. Há tempo de chorar e tempo de rir. Há tempo de se afligir e tempo de dançar. Há tempo de espalhar pedras e tempo de as ajuntar. Há tempo de dar abraços e tempo de se afastar deles. Há tempo de adquirir e tempo de perder. Há tempo de guardar e tempo de lançar fora. Há tempo de rasgar e tempo de coser. Há tempo de calar e tempo de falar. Há tempo de amor e tempo de ódio. Há tempo de guerra e tempo de paz"
Feliz quem sabe fazer a coisa certa no tempo certo, pois se afligirá menos que aqueles que desconhecem as sutilezas do tempo que nos foi concedido.
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