terça-feira, 1 de março de 2016

TEMPO CERTO




                            Será que existe um tempo certo para tudo? Penso que sim, pois, sempre que tentamos fazer algo que deveríamos ter feito em outra época nos tornamos inadaptados, cansados, estressados e até ridículos.

                            Sempre procurei viver com intensidade cada etapa da vida, dentro das limitações impostas pelo meu pai, depois pelo marido e mais tarde pelos filhos. Assim, uma liberdade assistida.

                           Curti muito o tempo de subir em árvores, de comer fruta verde no pé, de pular corda (e muros), de decorar a tabuada, de ver filme de mocinho no matiné das 13h e os filmes lindamente açucarados da Sissi na sessão das 16h, aos domingos.

                           Tempo de ler Monteiro Lobato e de me tornar romântica lendo a Coleção Rosa e os livros de Madame Dupré.

                          Tempo de namorar, ficar de mãos dadas no cinema, beijar, dançar, cantar, tocar piano, representar, desfilar, ser líder de turma, destaque na educação física e corajosa na política estudantil.

                         Tempo de fazer dietas “milagrosas” e alisar os cabelos com ferro quente de passar roupa.

                         Tempo de desabafar nos Diários e suspirar de amor ouvindo os discos da Jovem Guarda e da MPB.

                         Tempo em que JAMAIS a moça poderia convidar o rapaz para dançar e só lhe restava cruzar os dedos, caprichar no flerte e suspirar, torcendo para o eleito chegar e tocar seu ombro na mesa do baile.

                         Depois, veio o tempo de casar, engravidar, trazer bebês ao mundo, amamentar e aprender dia a dia como cuidar melhor deles.

                        Um tempo de trabalhar muito, viver correndo, pular da cama antes do dia nascer e desabar nela, exausta, à noite. Era tempo de ganhar dinheiro, economizar, adquirir bens, mantendo bem firmes e na direção certa as rédeas amorosas dos filhos adolescentes.

                       Chegou, então, o tempo de começar a realizar as viagens dos sonhos, querendo sempre mais.

                       Tempo de encompridar as saias, folgar as blusas, diminuir a maquilagem e os saltos dos sapatos.

                       Tempo de rezar mais e cuidar melhor da saúde.

                       Tempo de ver os filhos desabrocharem e começarem a viver sua própria vida.

                        E chegou o tempo de aposentar, puxar um pouco o freio, fazer as coisas mais devagar, ouvir melhor, dar mais atenção às pequenas coisas.

                        Tempo de ler mais, de assistir mais filmes, de ir mais ao teatro do que aos bailes e baladas, de comer e beber com mais parcimônia, de abandonar definitivamente o cigarro (se ainda estiver vivo para fazê-lo).

                         Cada um sabe de si e deve viver como melhor lhe aprouver. Muitos tentam resgatar, tardiamente, as etapas que pularam na época certa e se lançam cegamente numa curtição muitas vezes inadequada e perigosa.

                          Eu penso que há tempo para tudo. Com flexibilidade, mas não muita.

                          No momento, meu tempo é de escrever e publicar meus livros, além de ler cada vez mais, aproveitando o tempo que hoje me sobra e já foi bem restrito.

                          Afora isso, sinto que estou vivendo plenamente meu tempo de ser avó!




2 comentários:

Ana Luiza Carivali disse...

Com certeza, todos passamos por fases, no momento estou vivendo à dois pois com os netos crescidos, só o de 5 que é o bbzăo.Confesso que gosto, tenho tempo de sobra para tudo.Meus filhos moram no interior, e o neto mais velho faz faculdade em Poa.

Francisco Carlos D'Andrea (francari) disse...

Livro do Eclesiastes (do grego, o que fala à assembleia), capítulo 3 - Tudo tem seu tempo - versículos 1 a 8:

"Todas as coisas tem seu tempo... Há tempo de nascer e tempo de morrer. Há tempo de plantar e tempo de arrancar o que se plantou. Há tempo de matar e tempo de sarar. Há tempo de destruir e tempo de edificar. Há tempo de chorar e tempo de rir. Há tempo de se afligir e tempo de dançar. Há tempo de espalhar pedras e tempo de as ajuntar. Há tempo de dar abraços e tempo de se afastar deles. Há tempo de adquirir e tempo de perder. Há tempo de guardar e tempo de lançar fora. Há tempo de rasgar e tempo de coser. Há tempo de calar e tempo de falar. Há tempo de amor e tempo de ódio. Há tempo de guerra e tempo de paz"

Feliz quem sabe fazer a coisa certa no tempo certo, pois se afligirá menos que aqueles que desconhecem as sutilezas do tempo que nos foi concedido.