Dedico este texto aos professores e alunos que teimam em
estudar e aprender alguma coisa totalmente sem condições, esquecidos por todos
num casebre de barro, sentados em tijolos, equilibrando os cadernos nos
joelhos, sem banheiro, sem água para beber (merenda então nem se fala!), todos
juntos numa mesma sala e a maioria ainda analfabeta. Vão à aula para não perder
a Bolsa-escola, única renda familiar.
15
de outubro – Dia do Professor!
Mestre
– hoje um título acadêmico, outorgado a quem conclui o Mestrado e aprova sua
Dissertação.
Jesus Cristo foi Mestre - o melhor de todos! – sem precisar frequentar as
estafantes aulas dos cursos de pós-graduação. Assim como os “Doutores da Lei”,
de que fala a Bíblia, tampouco se doutoraram em coisa alguma.
Bem, o que importa saber é quem
ensina, o quê ensina e como ensina neste início do século XXI, indiferentemente
à nomenclatura usada para denominá-los.
Educação integral? Transmissão de conteúdos? Macetes para vestibular?Enrolação?
O que essa sofrida classe transmite nos bancos escolares?
Os alunos mudaram – e muito! Falam inglês quase fluentemente, pensam que sabem
espanhol, assassinam o português, são quase incomunicáveis na redação, não lêem
nada, entendem tudo de computador e sacanagem, dominam a gíria com desenvoltura
e os palavrões idem, odeiam política (preferem votar em branco), defendem os
direitos humanos sem saber bem o que isto significa e têm uma capacidade
imensurável de tolerância para com todas as formas de contravenção. Têm pais
muito caretas ou “muito loucos” e acham que “normal” é o mais abstrato dos
adjetivos, ainda que não saibam bem definir o adjetivo.
E
agora? Quem são os professores desta “galera”?
Sujeitos e sujeitas “descolados”, que usam bermudas e minissaias, sentam nas
carteiras, mascam chicletes nas aulas, não sabem utilizar o quadro-negro e
dominam pouco o conteúdo da disciplina que ministram; adoram debates, de
preferência sobre temas da atualidade, que permitam muitas hipóteses, quase
nenhuma conclusão e uma “saudável matação de aulas”. Aplicam poucas provas,
dando preferência a “trabalhos”, que podem ser copiados integralmente dos
livros ou da Internet, pois não serão mesmo lidos.
Uma pequena parcela de professores, na maior parte das vezes dos mais antigos,
faz a “linha dura”, aplicando provas dificílimas, atribuindo notas baixíssimas,
amedrontando a turma com conteúdos nunca ensinados, ou tão mal repassados que
ninguém entendeu. E se sentem poderosos, por conseguirem “ferrar” todo mundo,
despertando temor, que eles confundem com respeito, em seus discípulos.
Em contrapartida, há também aqueles que pretendem ser “amigos” dos seus alunos,
saindo junto, trocando confidências e esperando ser respeitados depois disso.
Como se os alunos precisassem procurar amizades entre o corpo docente!
A matemática do aprendizado é simples: - Se ninguém aprendeu, não foi ensinado;
se não conseguiu ensinar, não é professor. É isso!
Por tudo que foi dito, hoje, eu queria cumprimentar os poucos e valorosos
professores que realmente dignificam nossa profissão e não merecem o baixo
salário que recebem. Aqueles que conseguem se atualizar, malgrado o descaso dos
governos; que procuram entender os modismos das novas gerações sem abrir mão
dos valores fundamentais do ser humano; que conseguem suprir as carências
familiares da maioria dos alunos, sem esquecer os conteúdos que lhes abrirão as
portas do futuro; que ensinam, corrigem, apóiam e amam na medida e na hora
certas; que têm escrúpulos, evitando manipular seus alunos em causa própria e
que acreditam, sobretudo, na sua Missão de ensinar, educar e instruir.
Num tempo em que se fala tanto de ensino à distância, parecendo que o papel do
professor se torna supérfluo; que os alunos (e alguns pais de alunos), não
contentes com toda forma de desrespeito, partem para a agressão física; num
tempo em que só se fala de que a solução para a miséria e a violência está na
educação, a pergunta que não quer calar é esta:
- Como exigir qualidade e abnegação dos professores com salários tão baixos? Ou
devem eles fazer voto de pobreza em suas formaturas e aceitar o magistério e as
privações como uma missão de caridade?
Diante de tudo isso, seria hipocrisia dourar a pílula e falar apenas na magia
de ser professor. Só quem foi, ou é, pode conhecer o milagre do aprendizado.
Mas para tudo na vida existe uma remuneração justa, até como incentivo. Com o
magistério, não pode ser diferente.
Um grande abraço a todos os meus colegas de profissão, a todos os meus
professores e a todos os meus alunos, que completaram a minha formação na
prática e me deram muitas alegrias.
Parabéns!
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