Sempre me enterneci diante de casais unidos por muitos e muitos anos.
Talvez por ter exemplo em casa de um casal que viveu junto por mais de
cinquenta anos, andando de mãos dadas na rua e se beijando na boca (fora as
demais intimidades).
Meu pai casou com minha mãe quando tinha quarenta anos. Era solteiro e já
experimentara quase tudo na vida. Ela jovem, virgem e única filha
mulher de um casal ultraconservador. Ele disse a ela que não podia lhe
prometer comemorarem Bodas de Ouro, por conta da sua idade, mas as de Prata ele
garantia. Então foram tão felizes, apesar dos açoites da vida, que ele durou
até os noventa e dois anos e festejou com ela suas Bodas de Ouro. Eles eram um
verdadeiro CASAL.
Quem sabe esta seja a razão, ou uma das razões para eu achar tão lindo um
casal já de cabelos brancos, pele enrugada, passos vacilantes, de mãos dadas
pelas ruas, ou nas salas de espera dos consultórios médicos. Eles souberam
enfrentar juntos os revezes, superar as dificuldades, aceitar as diferenças,
respeitar os espaços, medir as palavras, estimular um ao outro, elogiar,
desenvolver a autoestima do companheiro (a), fazer carinho, não economizar
sorrisos, dividir, somar, multiplicar, compreender e AMAR.
É
muito bom conversar sobre os mesmos filhos, brincar com os mesmos netos, rir
dos mesmos parentes, comemorar as mesmas datas, dividir as mesmas lembranças.
Não tem preço! E são coisas cada vez mais raras neste mundo de uniões
provisórias, onde a palavra separação está sempre implícita nas discussões mais
tolas e os filhos se sentem numa verdadeira areia movediça, prestes a afundar
por qualquer irrelevância, qualquer TPM, qualquer dissabor no trabalho.
A vontade de ser constantemente feliz (ainda que nem saibam direito o
que é felicidade) transforma os cônjuges em verdadeiros poços de egoísmo,
não hesitando em sacrificar pessoas inocentes por conta de seus caprichos
momentâneos, ou sua dificuldade em buscar soluções conjuntas, dialogadas,
sensatas.
É claro que existem casos em que a separação é a única saída, antes que a
família toda pague pelos atos tresloucados ou pela falta de caráter de um dos
lados. Só que esses casos não são tão comuns (ainda bem) e o que se vê, na
maioria das vezes, são precipitações, imaturidade, inconsequência. E os filhos
é que sofrem e pagam a conta. Sempre.
Não tenho muito direito de dar conselhos porque casei com dezoito anos e trinta
anos mais tarde resolvi conhecer um pouco da vida e pedi o divórcio. Não farei
aqui uma mea culpa,
todavia posso adiantar que eu e meu ex-marido, pelo menos, somos muito amigos e
convivemos com nossos filhos e netos na maior tranquilidade.
Há doze anos casei novamente. Não sei se chegaremos a completar alguma Boda,
mas gostaria de andar de mãos dadas pelas praças, um amparando o outro, pelo
resto da vida. Como gostamos muito de viagens, música, teatro e cinema, mesmo
sem dividir um passado mais distante, espero que possamos conversar bastante,
ainda que usando aparelho auditivo, ou óculos de lentes bem grossas.
Para os mais novos, fica um depoimento e um desejo de que não joguem fora um
casamento de verdade por coisas pequenas, prazeres fugazes, emoções
passageiras. Há muita coisa interessante pra celebrar numa longa vida juntos.
Podem apostar.
2 comentários:
Olá, querida Mari Luísa
Tive em minha família alguns longos casamentos e outras tantas separações... cada um sabe de si...
Tem casamentos longos que são um fracasso total e que bom o do seu pai e mãe não ter sido assim!!!
Vc que é feliz!!!!
Bjm fraterno
Ótimo texto. A busca pela felicidade a todo custo e o individualismo têm acabado com muitos casamentos. Os casais conversam pouco, não se conhecem e não agem com compaixão. Elizabete
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