sexta-feira, 21 de outubro de 2011

SONHOS DE ACEROLA


              Devem ser gostosos e nutritivos, não acham?
              Bem, mas a história não é simples assim. Vamos a ela!
              Vivo em Florianópolis há mais de trinta anos, mas minhas raízes da fronteira gaúcha nunca permitiram que eu me tornasse uma verdadeira "rata de praia". Gosto da praia, acho lindo o recorte do mar, no entanto, sou mais de bosques, campos, cheiro de mato e terra molhada. Por isso, minha alma se refrigera nas viagens a Curitiba e São José dos Campos, onde estou agora. Aliás, refrigera é o termo certo, com este arzinho fresco da serra que há nas duas cidades.
              Aqui em frente ao prédio onde meu filho mora há um parque maravilhoso, que foi um conhecido sanatório nos idos tempos, para onde vinham se tratar os tuberculosos de todo o sul e sudeste do país. As construções foram tombadas pelo patrimônio público e os caminhos abertos para caminhadas e corridas. Ficou muito agradável, uma volta em torno das construções chega a mais de 1000m e tudo arborizado, cheio de sombra, com galinhas d'angola soltas, ciscando e árvores ma-ra-vi-lho-sas!
             Como se não bastasse, as árvores que margeiam os passeios são frutíferas - de acerola! É claro que o pessoal vai apanhando e comendo, então, praticamente só restaram frutas lá em cima, na copa das árvores. Isso sem falar naqueles "brasileiros" que enchem sacolas da frutinha até para vender.
             Acerola nem é minha fruta preferida, até porque não a conhecia na infância, que é onde os hábitos alimentares se formam. Só que, de tanto ver aquelas frutas vermelhinhas lá em cima, vai dando vontade de prová-las. Então ficamos frustrados por ver que nosso desejo é inatingível. Não vou me expor aos espinhos e ao mico subindo nas árvores e ainda certamente sendo admoestada pelos guardas do parque. Também não vejo nenhuma vara que me pusesse servir para bater nelas. E sigo frustrada...
             De repente, eis que cai aos meus pés uma bolinha vermelha, sedutora e eu logo me abaixo para apanhá-la, limpo a terra na camiseta e coloco-a na boca. Era o sonho realizado!
             Pena que, além de mastigar alguns grãos de areia junto, o gosto nem se compara ao das amoras e pitangas da minha meninice.
             Lembro de quantas vezes já vi esta fruta nos mercados, limpinhas, brilhantes, suculentas e jamais comprei. Por que, de repente, me pareceram tão apetitosas e desejáveis? Por que estavam inacessíveis? Por que todo mundo as disputava? Por que restavam poucas?
             Será que não é isso mesmo que fazemos com nossos sonhos? Vivemos atrás deles, sempre insatisfeitos, sempre frustrados, sempre desejosos e, muitas vezes, ao realizá-los, nos damos conta de que nem era isso mesmo que queríamos e partimos logo para outro sonho impossível.
             Não seria bom procurarmos nossas realizações bem mais pertinho, às vezes ao nosso lado? Pois, como diz um pensamento antigo (desconheço a autoria), a felicidade está onde nós a colocamos e nunca a pomos onde nós estamos.
             Bem, já dei um mote para vocês pensarem um pouco. Vou colocar o tênis e correr para o parque, uma vez que o mau tempo já vem chegando do sul e temos que aproveitar.
              - Vai um suco de acerola aí?


Um comentário:

Ana Luiza Paim Carivali disse...

Aoro entrar aqui e me deliciar com teus textos.Realmente somos incapazes de ver a felicidade,está na ponta do nariz e não percebemos.*Adoro,ops.