Bem, mas a história não é simples assim. Vamos a ela!
Vivo em Florianópolis há mais de trinta anos, mas minhas raízes da fronteira gaúcha nunca permitiram que eu me tornasse uma verdadeira "rata de praia". Gosto da praia, acho lindo o recorte do mar, no entanto, sou mais de bosques, campos, cheiro de mato e terra molhada. Por isso, minha alma se refrigera nas viagens a Curitiba e São José dos Campos, onde estou agora. Aliás, refrigera é o termo certo, com este arzinho fresco da serra que há nas duas cidades.
Aqui em frente ao prédio onde meu filho mora há um parque maravilhoso, que foi um conhecido sanatório nos idos tempos, para onde vinham se tratar os tuberculosos de todo o sul e sudeste do país. As construções foram tombadas pelo patrimônio público e os caminhos abertos para caminhadas e corridas. Ficou muito agradável, uma volta em torno das construções chega a mais de 1000m e tudo arborizado, cheio de sombra, com galinhas d'angola soltas, ciscando e árvores ma-ra-vi-lho-sas!
Como se não bastasse, as árvores que marjeiam os passeios são frutíferas - de acerola! É claro que o pessoal vai apanhando e comendo, então , praticamente só restaram frutas lá em cima, na copa das árvores. Isso sem falar naqueles "brasileiros" que enchem sacolas da frutinha até para vender.
Acerola nem é minha fruta preferida, até porque não a conhecia na infância, que é onde os hábitos alimentares se formam. Só que, de tanto ver aquelas frutas vermelhinhas lá em cima, vai dando vontade de prová-las. Então ficamos frustrados por ver que nosso desejo é inatingível. Não vou me expor aos espinhos e ao mico subindo nas árvores e ainda certamente sendo admoestada pelos guardas do parque. Também não vejo nenhuma vara que me pusesse servir para bater nelas. E sigo frustrada...
De repente, eis que cai aos meus pés uma bolinha vermelha, sedutora e eu logo me abaixo para apanhá-la, limpo a terra na camiseta e coloco-a na boca. Era o sonho realizado!
Pois, além de mastigar alguns grãos de areia junto, o gosto nem se compara ao das amoras e pitangas da minha meninice.
Lembro de quantas vezes já vi esta fruta nos mercados, limpinhas, brilhantes, suculentas e jamais comprei. Por que, de repente, me pareceram tão apetitosas e desejáveis? Porque estavam inacessíveis? Porque todo mundo as disputava? Porque restavam poucas?
Será que não é isso mesmo que fazemos com nossos sonhos? Vivemos atrás deles, sempre insatisfeitos, sempre frustrados, sempre desejosos e, muitas vezes, ao realizá-los, nos damos conta de que nem era isso mesmo que queríamos e partimos logo para outro sonho impossível.
Não seria bom procuramos nossas relizações bem mais pertinho, às vezes ao nosso lado? Pois, como diz um pensamento antigo (desconheço a autoria), a felicidade está onde nós a colocamos e nunca a pomos onde nós estamos.
Bem, já dei um mote para vocês pensarem um pouco. Vou colocar o tênis e correr para o parque, uma vez que o mau tempo já vem chegando do sul e temos que aproveitar.
- Vai um suco de acerola aí?
4 comentários:
Texto saboroso, não só ao pé da letra.
Uma fruta no pé é irresistível.
Com a globalização, algumas frutas foram introduzidas no Brasil, é o caso da acerola, também conhecida por cereja das antilhas ou mais especificamente cereja de Barbados.
Outra que foi introduzida no país, é o Kiwi, originário do sul da China.
Ao ler tua citação sobre elas, foi impossível não me recordar, sem água na boca, do gosto das amoras e pitangas da minha meninice, Maria Luiza. Uma delícia, esse teu texto! A a título de contribuição: o autor dos versos do poema "Felicidade" é Vicente de Carvalho. Vou mandar-te o poema completo, via e-mail.
"a felicidade está onde nós a colocamos e nunca a pomos onde nós estamos."
A Marília chegou antes, vou apenas complementar: é o "fecho" de um dos mais belos sonetos que conheço.
O texto é tão gostoso quanto o soneto e mais gostoso que uma acerola madura!
QUE LUGAR LINDO! VOCE FEZ A MINHA IMAGINAÇAO FLUIR AS ACEROLAS FICARAM MAIS SABOROSAS SE TIVESSE ASAS COM CERTEZA IA VER ESTA MARAVILHA DE LUGAR.
Postar um comentário