domingo, 2 de maio de 2010

NÃO SEI MAIS ESCREVER.

              Não sei mais escrever. Daqui a pouco me tornarei completamente ultrapassada e obsoleta, sem chegar a me transformar num "clássico", o que é ainda pior.
               Embora consiga resultados satisfatórios nos concursos onde inscrevo meus contos e crônicas, o que me chateia é ler os vencedores e raramente ficar convencida dos resultados, achando-os herméticos, cansativos, loucos demais.
                Vou citar alguns trechos de contos vencedores de um recente e grande concurso literário, sem a autoria para não queimar o filme de ninguém, apenas procurando elucidar meu ponto de vista.
                  " A vida não o amedronta. É imune às intempéries e aos cataclismas. Os fatos, carregados de dores e provações, o atravessam incólumes e não deixam lembranças ou traumas. A dor física é atributo de sua existência em terra de brutos e se faz contributo para melhor forjar a sua carcaça de insensibilidade. Imune às dores e aos sentimentos, se faz cadeado da própria libertação."
                    Gostaram?
                    Aqui vai outro fragmento de um conto (?) vitorioso:
                    "Compreender as coisas pelos sentidos é uma necessidade humana, mas descobri-lo como num composto químico é muito melhor: você descobre o sentido dos sentidos e ainda o sentido reagido com os outros. É como numa receita, como na arte gastronômica, em que os sentidos entram como ingredientes de tal forma que sua forma é um sentido novo de ser e de sentir o mundo que nos olha-toca. Olhar por dentro dessa toca, desse esconderijo que é um universo."
                    Se gostaram, podem me dizer e eu entenderei perfeitamente. Não serão os únicos já que os contos foram premiados.
                    Esclareço apenas que os trechos citados não estão fora de contexto, porque a narrativa segue nesta mesma linha até o final e não há um enredo, tampouco personagens.
                    Imagino que, a seguir esta tendência na literatura, o nome "conto" deverá também ser mudado, uma vez que já não se conta história alguma, parece que os autores deixam a cabeça pensar livremente, milhares de coisas simultâneas, reflexões mirabolantes e vão registrando.
                     Será esta a escritura pós-moderna?
                     E o mercado editorial, como é que fica?
                     Como este tipo de texto preencherá um livro? E quem comprará? Quem lerá?
                     Então, por que os julgadores os premiam?
                     Imagino que nestes concursos literários aconteça algo semelhante ao que vemos na moda, nos grandes e sofisticados desfiles de roupas que nunca serão usadas, apenas revelando tendências.
                      Sei que meus leitores não gostam de comentar o que lêem. Ainda mais tendo que copiar letrinhas e preencher endereços. Eu gostaria muito de ouvir algumas opiniões, ainda que anônimas, porque é um assunto sobre o qual ainda não tenho uma opinião formada.
                       Por enquanto, só posso afirmar que não tenho competência para escrever este tipo de texto, tampouco para ler, pois logo canso e desisto de procurar uma linha de compreensão.
                       E vocês? O que acham? Não precisam concordar comigo.

4 comentários:

Maria da Graça disse...

Oi amiga, detestei os trechos premiados....mas parece que a nossa opinião (popular) nunca combina com a dos jurados das grandes premiações,dos criticos, basta ver os filmes premiados...Quantos filmes maravilhosos ganham apenas 2 estrelinhas??

Fernanda disse...

Gostei especialmente do segundo trecho, muito cómico!
Realmente posso sugerir um nome para substituir "conto", que tal devaneio?!

Maria Luíza, tenho que concordar com a Maria da Graça, aliás, eu tenho os críticos em baixa conta, para não dizer que valem zero. Se vamos por eles, perdemos filmes e livros de qualidade. Por isso, para mim, um conselho de um amigo vale muito mais, quando quero ler ou ver um filme.

E em histórias infantis?! Já viu as parvoíces do que se anda a publicar?! Um desvario total, por isso faço de questão de ler os livros, antes de comprar e dar aos meus filhos.

Um bom domingo.
Bjosss

Francisco Carlos D'Andrea (francari) disse...

Quanto aos textos trancritos, estão dentro da realidade atual, em que, por desconhecerem totalmente o idioma, as pessoas (jovens) escrevem coisas dificeis de entender, massacrando a língua. Embora você seja muito mais jovem que eu, pertencemos ambos ao período jurássico, qual dinossauros extintos. Há que conformar-se com a situação, extinto tem voz, mas já não tem vez :-)

Unknown disse...

Não gostei e acho que não rola.
Podem ganhar concursos, mas não vende. Quem compraria um livro assim por exemplo?
O principal não são as palavras, mas as idéias.
Precisamos de idéias, gente que pensa e faz pensar através de seus escritos.
Como sabes fazer muito bem, às vezes nos fazendo rir, emocionando,percebendo a vida de maneiras diferentes.
Seja sempre a mesma, vale muito a pena.
Beijos