terça-feira, 29 de dezembro de 2009

CARTA ABERTA

           Florianópolis, 29 de dezembro de 2009.
           Amigos:
           Hoje, quase assados como um peru de Natal, podemos comprovar que o tal do “aquecimento global” não era conversa fiada dos ecologistas ou do Green Peace.
           Não pretendia mais escrever até a virada do ano, até porque já o encerrei formalmente com minha mensagem de Ano novo, só que o tema é recorrente, está em todas as bocas e um cronista não consegue escapar dos fatos, assim como um relator das coisas do seu tempo.
           O calor aqui no sul do Brasil é tanto que as pessoas já estão querendo considerar o aparelho de ar condicionado como a grande descoberta da humanidade. Há quem, na rua, se refugie nos bancos e nos shoppings, apenas para descozinhar a pele antes de voltar a enfrentar o abafamento das calçadas.
            Dentro de casa, janelas escancaradas, a única brisa é a que sai das pás do ventilador e é disputada por todos, até pelo cachorro. Por falar nele, minha cadelinha Pitty, de uma raça nórdica, vive de língua de fora, arfando e se refugia na peça onde alguém estiver com o ar ligado, seja quem for, até os hóspedes. Recusa-se a passear na rua durante o dia e toma potes e mais potes de água, numa intermação constante.
            Ainda bem que aqui em Floripa existem 42 praias! Oba! Só que se leva a metade do dia só para chegar até elas, uma vez que turistas de todo o país querem desfrutar das belezas de nossa ilhazinha, que não comporta sequer seus próprios moradores. Em se chegando à areia, é melhor levar um guarda sol pequenininho, já que o espaço para abri-lo é exíguo, do tamanho dos menores biquínis. Aí você aproveita, toma bastante cerveja geladinha e, quando saturar e ficar sonhando com uma ducha de água doce e a sua poltroninha... prepare-se para levar um peniquinho no carro, uma vez que a cerveja pode não aguentar as horas de congestionamento que você terá de experimentar antes de conseguir chegar ao conforto da sua casa.
            Para quem tem casa na praia é diferente! Sem engarrafamentos, sem estresse, apenas com cinco hóspedes por metro quadrado e uma fila monumental na porta do banheiro. A geladeira estará sempre cheia de cerveja e carnes pingando sangue no que mais couber ali dentro, mas o que importa é a festa, então...
            Os felizardos que ficam nos hotéis da orla, esses sim estarão bem acomodados, pena que por bem poucos dias e às vezes o sol só aparece no dia em que fazem as malas para ir embora.
             Claro que entre um extremo e outro há muita coisa boa, muita água, muito bronzeado (e sapecado também), muita porcaria no estômago (e o sonho de um prato de feijão com arroz), conta bancária esvaziando em proporção aritmética e a circunferência da barriga aumentando em proporção geométrica.
             Todo ano é a mesma coisa.
             Neste ano, o diferencial está nos termômetros, que enlouqueceram, e na conta de luz no final do mês, depois de tanto ventilador e ar ligados, dia e noite.
            Fazer o quê?
            Quem mandou desmatar, poluir, não separar o lixo?
            Vou esperar as aulas recomeçarem para iniciar minha temporada de praia, lá por depois do carnaval.
            Até lá, divirto-me nos noticiários vendo o que passam as pessoas por um mergulho nos mares catarinenses.
            - Vai um sorvetinho aí?

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