Depois de uma vida regrada e sempre procurando acertar, cuidando da saúde, sendo o melhor profissional, o melhor amigo e a melhor pessoa possível para a família, na hora de colher os frutos, árdua e dedicadamente plantados, de brincar com os netos, de conhecer todos os lugares sonhados, de confraternizar com os amigos, vem uma pandemia e nos coloca isolados e com uma placa dependurada na porta dizendo em letras garrafais: GRUPO DE RISCO.
Um ser malévolo, certamente, deve ter resolvido eliminar da face da terra a sabedoria, a tolerância, a paciência e a bondade que só os mais velhos têm. E, não satisfeito, determinou que seriam os jovens, aqueles tesouros dos pais e dos avós, cheios de energia, que haveriam de infectá-los, caso teimassem em sair do casulo, ou não resistissem à saudade e à vontade de abraçar seus maiores amores, sua descendência.
Primeiro foi a humilhação da “fila dos idosos”, que na verdade trouxe algumas vantagens. Depois, a Carteira de Motorista com validade de apenas três anos, mesmo para quem nunca recebeu uma multa sequer.
E agora isso! Uma máscara cobrindo o rosto, mãos lavadas, álcool, casa limpa e desinfetada, tudo que os mais velhos obedecem religiosamente, até porque são mais habituados a obedecer, mas o que fazer com a vontade ver a casa cheia, a mesa cheia, os cafunés, os colos?!
Nós, os sexagenários (que horror esse nome!), nunca pensamos em enfrentar uma pandemia dessas! Muito menos que nos tornássemos o alvo principal dela! Então, nossa luta nesses anos todos termina assim?! Isolados, assustados, ansiosos, rezando dia e noite para ninguém da família e dos amigos adoecer, com medo de um espirro, uma tosse e esperando que o país finalmente nos traga uma vacina libertadora, que possa nos livrar do cativeiro?! E ainda assim não teremos direito a sermos vacinados no primeiro grupo, porque não somos velhos o bastante e quem faz as leis não levou em conta que precisamos sair bem mais e ficamos mais expostos, porque não tem quem aguente trazer comprinhas na porta para nós durante um ano inteiro.
Precisamos ver a população imunizada para termos esperança! O vírus ataca mais de uma vez e nem mesmo quem sobreviveu a ele está imune. Se os jovens não se cuidarem, não fizerem a sua parte, em 2021 teremos que mudar o nome de uma data em julho para “Dia dos Avós Sobreviventes”.
Viver sem planos, sem sonhos e sem esperança é viver pela metade. É apenas sobreviver.
Que Deus nos ajude e que todo esse martírio logo tenha fim!
Amém.
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