domingo, 27 de setembro de 2020

A BELA TEIMOSIA DAS FLORES

 

                    Mais uma primavera desponta. E as flores desafiam o frio do Sul, as geadas, o coronavírus, as queimadas, a política e desabrocham, desafiadora e lindamente.

                   O povo torna a se aglomerar, a fazer pouco caso da pandemia e aquela curva no gráfico, que tinha descido a duras penas e ao custo de tantas vidas, volta a subir. Os jovens se consideram invencíveis, pensam que têm o corpo fechado e menosprezam todas as recomendações e cuidados. Com isso, levam para casa mais do que o dinheiro do trabalho e os abraços, levam também o vírus, que será mortal para os seus queridos mais idosos.

                 A Primavera é uma estação do ano geralmente de clima ameno, ventos fortes, muito pólen no ar e espirros em profusão. Sua maior característica, todavia, são mesmo os canteiros floridos, os vasos coloridos, os campos bordados de florzinhas pequenas, daquelas que Mateus fala na Bíblia, porque não trabalham não fiam, mas possuem uma beleza sem par.

                 Para alguns, o melhor da Primavera é que ela encerra o Inverno, geralmente muito rigoroso aqui no Sul do Brasil. Outros se encantam com as flores e o clima mais ameno, sem picos de frio ou de calor. É a antessala do Verão, para muitos a melhor estação do ano, aliada a férias, viagens, banhos de mar, de rio, de piscina, pouca roupa, cerveja gelada, festas.

                  Só que nesse ano a mudança da estação não vai mudar muita coisa. Por um lado, as flores foram mais cuidadas e mais apreciadas, já que ficamos mais em casa e tivemos tempo para cuidar delas. Por outro, também elas guardam nossos olhares de tristeza e preocupação.

                   Continuamos em casa, continuamos nos encharcando de álcool gel e nos sufocando com as máscaras, ainda temos medo das pessoas e achamos que nossas idas ao supermercado são crimes inafiançáveis. Assistimos as multidões nas praias cariocas e ficamos estarrecidos, temerosos de que logo eles voltem a passar pelo pior.

                  Nesse ano não conseguimos comemorar nenhuma data. Foram aniversários quase tristes, inclusive das crianças. Tudo indica que o Natal não será diferente.

                  As vacinas ainda não ficaram prontas, até quem já teve a Covid pode se reinfectar, as escolas não conseguem abrir, os balanços nos parques e praças choram de saudade das crianças e as famílias estão chegando no limite.

                 Realmente, 2020 foi um ano que não aconteceu.

                 Pois as flores ignoram todo esse cenário e desabrocham lindamente!

                 Bem-aventurada seja essa teimosia que traz beleza e consolo para as almas sofridas dos brasileiros.

                “Olhai os lírios do campo!”


 

 

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