sábado, 18 de julho de 2020

DICIONÁRIOS REDUZIDOS



                   Minha matéria preferida na escola sempre foi Português. Que já se chamou Língua Portuguesa e até Língua Nacional. Tive excelentes professores dessa disciplina, que me fizeram ficar cada vez mais inclinada para a área de Letras. Dona Domingas Faraco levava para a aula trechos difíceis de autores consagrados para me desafiar na análise sintática, sempre com muitas orações reduzidas complicando bastante. E nos dias de prova as colegas da faculdade brigavam para sentar perto de mim. Além disso, sempre fui uma leitora voraz, hábito que adquiri em casa com o exemplo dos meus pais e o incentivo deles. Assim que me alfabetizei já devorei a coleção completa de Monteiro Lobato e não parei mais. Até hoje estou sempre lendo algum livro, sem faltar um só dia. Quando um termina, na mesma hora começo a ler outro. Sempre têm alguns na fila, pois vivo comprando.
                    No momento, estou lendo Dickens (A vida e as aventuras de Nicholas Nickleby, 1838), um livro de novecentas páginas que ele escreveu com apenas vinte e seis anos de idade. Tosltoi, Jane Austen, Hemingway e muitos outros escreveram livros imensos, deliciosos, com um vocabulário vastíssimo que volta e meia me fazem recorrer aos dicionários, tal é o encurtamento das palavras usadas em nossa rica língua. Caem em desuso porque não são utilizadas, mas existem e são lindas! Nomes de plantas, de flores, descrições de lugares, sensações, chega-se ao ponto de imaginar que estão escritos numa língua estrangeira, já que raramente os lemos em algum lugar.
                   Que mal fez a essas novas gerações o computador, a televisão e o celular! Sim, mal! Porque acabaram as relações humanas, a interação das famílias, as pesquisas escolares bem feitas e a língua foi assassinada cruelmente, com abreviaturas ridículas e erradas – sim, porque existem regras para se abreviar! Uma linguagem tatibitate que não leva a lugar algum além do ridículo. Tudo para ser “moderno”, engajado em coisa nenhuma e incapaz de escrever um parágrafo sem no mínimo meia dúzia de erros gramaticais ou sintáticos.
                  Lamento por quem não aprendeu a gostar de ler. Tenho pena de quem escreve tão errado e não se esforça para melhorar. O que vale é a imagem, a fotografia, o visual. Sendo que as palavras são tão mais bonitas e exprimem tão melhor os sentimentos e os pensamentos!
                  Olho para meu robusto e muito utilizado Aurélio na estante e penso... para o que se lê, se escreve e se fala hoje os dicionários poderiam ter o tamanho e a espessura de um gibi!
                  Lamentavelmente.





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