terça-feira, 31 de março de 2020

QUANDO O AMANHÃ CHEGAR...



Sem aviso prévio fomos encarcerados. E torturados sem dó pelos meios de comunicação.
Cada um reagiu conforme a sua natureza. Cantando, fazendo piada, ginástica, comidas ou então apavorados, negativos, depressivos, apocalípticos.
Falam muito na convivência finalmente próxima de pais e filhos na mesma casa. Nem sempre harmônica por sinal...
E esquecem totalmente dos avós, quando muitos deles ajudaram a criar os netos, tomam conta deles diariamente e, de repente, foram cruelmente afastados e admoestados de que aqueles anjos que sempre enfeitaram e alegraram sua vida podem agora lhes trazer o vírus da morte! Nem o maior dos sádicos poderia engendrar castigo pior aos avós! Como se as chamadinhas de vídeo pudessem compensar o abraço, o beijo, o aconchego, o cheiro.
As crianças sentem também. Minha netinha mais nova abraça o celular onde falo com ela e não o entrega a ninguém, como se assim pudéssemos estar juntas novamente. A mais velha quer fazer todas as tarefas diante da câmera comigo do outro lado. E só diz que está morrendo de saudade!
Mas ninguém fala nos avós, a não ser para mandá-los ficar em casa e bem longe dos netos. Para quem vê os netos de vez em quando não deve ser difícil, no entanto, para quem convive diariamente com eles é bem dolorido.
Outra coisa que falam é que, depois que essa pandemia passar (se é que passará), não seremos os mesmos, estaremos transformados, o mundo será melhor.
Não sei se sou cética, descrente ou se sempre soube valorizar o que está sendo valorizado só agora por muitos: a casa, a família, a fraternidade, a liberdade.
Não sei se mudarei em alguma coisa, talvez para pior caso perca alguém próximo para essa peste. Daí certamente serei mais triste, mais infeliz, mais revoltada, nunca “melhor” como querem nos fazer crer.
Não acho que merecíamos passar por isso, pelo menos nós, pessoas honestas, trabalhadoras, amigas. Acho tudo isso muito injusto com a maioria das pessoas.
Os bandidos talvez merecessem, mas logo esvaziaram as cadeias para não contaminá-los.
Os profissionais da Saúde não mereciam essa sobrecarga perigosa ameaçando eles e as suas famílias em casa. Outra crueldade: pais se transformarem em possíveis condutores da doença e da morte para os filhos. Logo eles que mais amam e mais querem proteger! Essa pandemia tem requintes de crueldade inimagináveis. Parece um seriado da Globo! Pois esses profissionais da Saúde foram sempre mal pagos, atendendo o dobro de pacientes que caberiam nos hospitais, caindo de sono e cansaço e agora enfrentando um vírus desconhecido e perigoso sem os equipamentos necessários para se protegerem adequadamente.
Nem adianta saber de onde se originou o vírus. Deve ter sido de um dos cavaleiros do Apocalipse.
Quando tudo isso passar... se passar... queria condecorar quem conseguiu se isolar tanto tempo entre as quatro paredes de um apartamento, sem uma árvore, sem pássaros, nem um raio de sol.
Nunca aprendi com dores e sofrimentos. Sempre preferi aprender e aprendi melhor com amor, beleza, emoção, carinho.
Certamente não serei a mesma se sobreviver a isso... um pouco pior talvez.
O resto é literatura barata.







Nenhum comentário: