terça-feira, 14 de agosto de 2018

A IMPORTÂNCIA E A RESPONSABILIDADE DE ESCREVER PARA CRIANÇAS


A pedido:


OFICINA DE LITERATURA INFANTIL

A IMPORTÂNCIA E A RESPONSABILIDADE DE ESCREVER PARA CRIANÇAS

Palestrante: Maria Luiza Vargas Ramos

Data: 09/08/2018                                   

Local: Centro Cultural de Alegrete


“A mim me salvaram as crianças. De tanto escrever para elas, simplifiquei-me!”

 (Monteiro Lobato)


       A Literatura Infantil teve início na Europa, em meados do século XVIII, quando a criança deixou de ser vista como um adulto em miniatura e ganhou um espaço literário só para ela.
                No Brasil, foi só no final do século XIX que os livros dedicados ao público mirim começaram a circular.
       Com Monteiro Lobato inicia, de fato, a Literatura Infantil no Brasil.

      Ziraldo e Ana Maria Machado são nomes também consagrados nesta literatura para crianças.

       Atualmente, a literatura infantil ganha cada vez mais destaque, respondendo por 74% dos livros comercializados nas livrarias e Feiras.

       Mas ela ainda sofre preconceitos, é considerada por alguns desentendidos como uma “literatura menor”, a ponto de alguns escritores negarem que suas obras são escritas para os pequenos.

      Escritores, educadores e pais querem criar em seus filhos e alunos o hábito da leitura, porém muitos adultos não têm esse hábito e encontram mil desculpas para isso, como falta de tempo, de dinheiro, etc. Essa atitude vai tirando o interesse da criança que, no início, via o livro como algo encantador, mágico, cheio de mistério.

      A leitura de textos infantis, mesmo para crianças não alfabetizadas, é um caminho que leva a desenvolver a imaginação, emoções e sentimentos de forma prazerosa e significativa.

     Pais e professores devem ter o hábito de frequentar bibliotecas e livrarias, pois o exemplo é sempre um professor muito eficaz.

     É essencial que a criança possa escolher o livro que quer ler e que tenha acesso aos livros desde cedo.

    A poesia, por envolver a história e a sonoridade, costuma agradar muito os pequenos.

     Os contos de fada apresentam à criança questões do ser humano que ela pode interpretar, como a perda, o amor, o companheirismo, a amizade.

     A ilustração é muito importante nos livros de literatura infantil. À medida que se desenvolve, a criança passa a exigir menos ilustrações, os jovens podem até gostar dos mesmos temas, mas preferem livros com menos desenhos e com capa mais discreta.

     Cada criança terá seu próprio ritmo para migrar para uma literatura juvenil e depois adulta. Isso vai depender do amadurecimento de cada um.

     A literatura juvenil deveria ser uma ponte para a literatura adulta, no entanto, em muitos casos, acontece aí uma ruptura, o jovem se desinteressa dos livros, por falta de tempo, por questões pessoais ou porque a leitura passa a ser uma obrigação escolar. Acabado o prazer da leitura, o livro não é mais buscado.

     Ao escrever para crianças devemos ser simples, mas não simplórios.

     A criança não aprecia uma literatura fácil, mastigada, óbvia demais. Ela prefere sair da sua zona de conforto e experimentar novas sensações.

     As mesmas exigências feitas aos escritores da literatura adulta são feitas aos da literatura infantil, o mesmo cuidado com o texto, a mesma excelência. 

    A literatura infantil é fundamental para que as crianças travem contato com os livros desde cedo, acostumando-se com a sua textura, seu formato, seu cheiro e seu universo de possibilidades.

   Geralmente, a literatura infantil abarca a criança de dois a dez anos de idade. Os menores dependem da mediação do adulto e o texto deve ter muitas ilustrações e ser de fácil entendimento. Deve ser interessante e servir de estímulo para os pequenos.

    Ainda que passem valores e alguns hábitos, esse não deve ser o objetivo principal do livro infantil, que deve, sobretudo, proporcionar uma nova visão da realidade, diversão, fantasia e lazer.

    Temas adultos, como guerras, crimes e drogas não são apropriados para crianças.

    Os textos devem ser relativamente curtos.

     As ilustrações caprichadas, coloridas, com bastante estímulos visuais.

     A linguagem deve ser simples e os fatos apresentados de forma clara.

    Permanece certo caráter didático, no ensinamento de regras e comportamentos sociais adequados.

     Muitos diálogos e acontecimentos, com poucas descrições.

   Crianças e animais costumam ser os personagens centrais das histórias que, geralmente, têm final feliz.

   A literatura é uma grande aliada da alfabetização, promovendo, inclusive, a motivação necessária para o aprendizado.

   O professor é o grande mediador desse processo e só saberá indicar livros adequados à idade e ao conhecimento dos alunos se ele próprio tiver uma bagagem de leitura adequada.

     Além de ampliar o vocabulário, trabalhar sentimentos e alfabetizar, a literatura faz com que a criança aprenda, desde cedo, a apreciar a arte.

    A literatura não deve ser vista apenas como um meio, mas como um fim em si mesma. Ela é importante por si própria.

     Ao ler ou ouvir uma história, a criança pode se colocar no lugar dos personagens e assumir diferentes papéis; ela vive a personagem, toma partido, identifica-se. Todo tipo de narrativa oferece uma verdadeira viagem ao leitor.

    Uma mediação potente por parte da escola certamente contribuirá decisivamente na formação dos leitores.

    Visitas regulares à biblioteca, estantes de livros em sala de aula, salas de leitura, enfim, quanto mais livros em volta, maior o contato com a literatura, maior será o estímulo.

    Nas idas à biblioteca as crianças devem conversar sobre os livros lidos, sobre os ilustradores e autores e a forma de escrever de cada um deles.

   Assim, não veremos mais pais escolhendo livros para os filhos nas Feiras pelo preço, pela capa e pela ilustração apenas.

   A qualidade do texto é que separa as obras literárias das não-literárias e livros mal escolhidos podem destruir para sempre uma inclinação para a leitura.

  Os professores devem também investir nas suas leituras e estarem muito mais próximos dos livros para poderem indicar melhor os livros aos alunos.

 A literatura auxilia a alfabetização, todavia, se os textos literários forem mal utilizados, com exigências gramaticais, eles serão desfigurados e perderão seu encanto para as crianças.

 A TV, os jogos, a internet acabam por massificar os comportamentos e seu excesso deixa o cérebro passivo e lento. A criança não tem nem o trabalho de criar a imagem do personagem, porque recebe tudo pronto. Além de algumas “celebridades” que ficam repetindo frases de efeito vazias em seus canais.

 Pior de tudo é quando a escolha dos livros a serem adotados nas escolas, inclusive pelas Secretarias de Educação, atende a critérios espúrios como vantagens econômicas, amizade, compadrio, conchavos.

 Aí encontramos conteúdos totalmente inadequados sendo oferecidos a pequenos seres em formação, ou livros sem nenhum atrativo, nada que prenda e encante a criança, afastando-a, às vezes para sempre, dos livros e da literatura.

 O livro infantil deve ser lúdico, imaginativo, repleto de atrativos que estimulem a leitura, povoando seu mundo de fantasia e inocência.

   A leitura é a única que atinge o consciente, o inconsciente e o subconsciente. Se há limites no mundo, não há limites na nossa imaginação.

   Muitas escolas brasileiras não se preocupam com a cultura local, com o incentivo de adoção de obras locais nas escolas.

   Muitos educadores preferem desconhecer as coisas da sua terra e simplesmente restringir suas aulas às cartilhas tradicionais desatualizadas.

    Além do prejuízo aos leitores, o escritor independente, que se esforça para produzir uma literatura de qualidade, fica marginalizado, em detrimento de livros mal traduzidos, muito distantes da realidade dos pequenos leitores.

    Investir na criança é investir no futuro.

    Porque a criança não é um adulto em miniatura.

    A criança é o adulto de amanhã!




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