Durante a vida toda vamos construindo nossa história e
também a nossa casa. São móveis e objetos escolhidos, herdados, conquistados,
adquiridos nas mais diversas situações e cada um com seu histórico.
Costumamos dizer que nenhum hotel cinco estrelas se compara
ao aconchego do nosso lar. Porque nele estamos em território conhecido, sabemos
do lugar de cada coisa, temos nossos recantos preferidos.
Uma casa que envelheceu com uma família só para os estranhos
é uma “casa velha”, para seus habitantes é parte deles mesmos e a moldura
perfeita do seu clã familiar.
Com os automóveis acontece algo semelhante. Para quem cuida
bem e não tem esse exibicionismo de trocar de carro quase todo ano, é
confortável saber como o motor responde, a força que tem e até a maneira de
acomodar as compras no porta malas. Infelizmente, nesse mundo de coisas substituíveis,
os carros começam a desvalorizar assim que saem da loja para a a nossa casa e
já não podemos ficar com eles todo o tempo que gostaríamos, sob pena de não
conseguirmos mais trocá-los ali adiante.
Só quem já fez uma reforma na casa morando nela sabe o
trabalho, o desconforto extremo e a sujeira que faz! Os próprios pedreiros
afirmam que dá menos trabalho construir uma casa nova do que reformar uma
antiga.
O grande inimigo dos velhos móveis é um bichinho repulsivo
chamado cupim. Quando ele começa a saborear a madeira e deixar aquele pozinho
de alerta, não há conservadorismo que resista! E, assim, as casas vão se
tornando impessoais, uniformizadas, cheias de móveis em MDF, que apenas imitam
as madeiras nobres. Nem os pianos sobrevivem! E esses modernos, eletrônicos,
leves, econômicos, jamais substituirão aqueles pesados, com bronze no interior
e nos pedais.
Nossa eternidade não costuma durar mais do que setenta,
oitenta anos. Depois disso, nossa história
será herdada pelos familiares e provavelmente o que nos é mais caro terá o menor
valor para os herdeiros. Quem vai querer entulhar sua casa de objetos que não
possuem o menor significado para essa outra família?
Assim, até para poupar os lixões, é melhor que não juntemos
muitas coisas depois da metade da vida, selecionando só o que realmente importa
, predestinando o que tem mais valor e, principalmente, deixando a casa mais
moderna, mais apresentável, com maior valor mercadológico, para facilitar a
vida dos herdeiros.
Criar textos, inscrevê-los em concursos, esperar o
julgamento, comemorar a vitória, receber o certificado, a medalha, o troféu,
exibi-los na vitrine da cristaleira e depois... quem vai querer guardar tudo
isso nessas casas cada vez menores e cheias de áreas comuns de lazer?!
Parece que tudo tem valor relativo na vida. Com prazo de
validade.
Se os casamentos terminam, se as pessoas partem, se os
cristais quebram e até as amizades se desfazem... de que vale querer manter
objetos, enfeites, quadros, livros?
Melhor modernizar tudo mesmo, livrando-se logo das
lembranças e dos cupins.
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