terça-feira, 18 de julho de 2017

LEMBRANÇAS QUENTES DE UM TEMPO FRIO




                             Sempre morei no Sul do Brasil, portanto, com maior ou menor intensidade, sempre vivi todas as estações do ano que, por aqui, são bem caracterizadas.

                             Diferente do restante desse país tropical, na região Sul temos invernos rigorosos, que atraem muitos turistas do Norte, do Centro e do Nordeste, mas que castigam bastante quem não gosta de frio e precisa morar por aqui.

                            Eu já fui mais friorenta, quando era mais magra. Hoje sofro mais no verão, pois aquele calor exagerado, que deixa a gente sempre suada, melada, me incomoda bastante.

                           Gosto mais do frio. Com conforto, é claro. Frio com alimentos calóricos e quentinhos, com mate quente, café, vinho tinto, boas sopas, mocotó e churrascos. Frio com roupas quentes, cobertores, lareira, aquecedores, bons chuveiros de água quente, um frio que não maltrata além do necessário.

                           E tenho boas recordações dos invernos que passei na minha cidadezinha, ainda com a família completa, talvez por isso, lembranças frias, mas extremamente felizes.

Lembro em quantas alegres manhãs atravessei a praça com a geada branqueando os canteiros, em bando com outras crianças, apressada para a escola. E de saia curta e meias três quarto! Quando colocava as luvas na saída, meu pai ajudava e ia dizendo, enquanto me abraçava sorrindo:

                         - Gato de luva, sinal de chuva. Gato de meia, sinal de peleia!
                        Todo inverno o Clube Caixeral promovia o "Baile do Blusão" e minha avó tricotava lindamente, freneticamente, para que sua única neta pudesse desfilar com sua obra. Perfeccionista, às vezes eu ia para a escola com o blusão já na cava e, quando voltava, ela estava refazendo a gaita da bainha, porque tinha ficado "um ponto torcido". Eu a pressionava muito e ela sempre buscando a perfeição e desmanchando tudo... mas no final dava certo e eu fazia bonito, principalmente porque bonito em baile é dançar bastante e disso eu entendia bem.

                         Passei muitos invernos em Alegrete, quebrando geada de manhã para ir ao Curso Normal e à noite para as aulas do Científico (queria ser médica).
                        Na volta, minha mãe me esperava com um prato de sopa quente, com um pedaço grande de carne no osso com tutano e ainda passava a ferro os lençóis da minha cama para esquentar meus pés gelados.

                       Quando criança, invejava meus irmãos homens que podiam colocar calças compridas para ir ao colégio de manhã cedo, no inverno, com a geada ainda pintando tudo de branco no jardim. E, quando a geada "levantava", aí sim que o frio se tornava ainda mais rigoroso.

                         Mesmo assim, não me lembro de viver encolhida por conta das pernas de fora. Inclusive, nossa professora de Educação Física nunca nos liberou do calção azul marinho e da camiseta branca de mangas curtas para fazer aula às 8h da manhã, estivesse o frio que estivesse. Com tanto exercício, logo estávamos aquecidas.

                        Naquele tempo, só as prostitutas usavam "islac"! E eu as invejava quando passavam na rua rebolando, com as pernas bem quentinhas...

                         "- Tá com frio?
                          Bota o c... no rio e dá um assovio pro teu tio!"
                          Aprendi com meu tio Jairo Vargas, ainda criança. Nunca entendi bem o sentido e porque iria passar o frio daquele jeito, mas todo mundo ria e repetia.

                          Lá na minha casa tem uma enorme lareira, que puxa bem a fumaça e não sai nada dentro de casa. Aliás, outra das minhas lembranças é das chaminés no inverno, em todas elas saindo aquela fumacinha para dizer que naquele lar tinha gente se aquecendo, conversando ao redor do fogo crepitando na lareira.

                         Um mate quente, uma boa sopa de mocotó fervendo no fogão à lenha, um bom vinho tinto, um café fresquinho com bolacha amanteigada, um abraço cheio de boas intenções... como não gostar do Inverno?!

                    Tão simples se arrumar no frio. Meninas, basta fazer assim:
                  - Liga o aquecedor bem próximo das roupas que vais vestir e da toalha.
                  - Toma um banho "de pingo" (pra sair quente).
                  - Te enxuga gemendo.
                  - Coloca a lingerie gelada e logo a camiseta, depois a meia calça nos pernas que já estão arroxeando, depois uma blusa de lã fininha, depois outra meia mais grossa, agora a calça comprida bem grossa e outro blusão de lã, agora bem grosso.
                  - Enfia as botas e corre para o secador. Seca o cabelo e já esquenta o rosto e o pescoço. Coloca muito creme no rosto para ver se ele reage, passa um batom bem hidratante, ou muita manteiga de cacau.
                  - Agora é a vez do cachecol e da touca.
                  - Enche as mãos de creme antes de por as luvas.
                  - Faz uma nuvem de perfume, porque a pele toda está coberta de roupa.
                  - Pega o casaco e a bolsa e está pronta!
                    Simples não?!

                    Então, vamos curtir esse frio que mata os insetos pestilentos, que agrega as pessoas, que gera tanto assunto nas redes sociais e que nos deixa mais tempo frescos e perfumados.

                   Depois, no verão, sabe como é... os maiôs são ingratos...e só a juventude malhada leva vantagem.

                  Um abraço bem fofinho, bem aconchegante!





Foto do site do Alegrete, com a geada cobrindo a praça dos patinhos nesta manhã.


 

Um comentário:

ana Luiza carivali disse...

Boas e saudosas lembrança desta terra onde nasci . Nada se compara aquele frio, com o vento minuano assobiando nas janelas . Abraços quentinhos.