Refiro-me aqui às desculpas como justificativas e não como pedido de
perdão.
Muitas vezes, as próprias famílias ensinam os pequenos a encontrar desculpas
para "n" coisas: atrasos, faltas, adiamentos, fracassos. E vamos
fazendo uso dessa técnica ao longo da vida.
O preguiçoso torna-se mestre em desculpas, algumas bem criativas, outras nem
tanto.
Muitas desculpas são "benignas", visam apenas evitar constrangimentos
ou aborrecimentos; outras, todavia, beiram a falta de caráter e aproximam-se
muito da mentira, da má fé.
Algumas pessoas especializam-se em desculpas motivadas pela cobrança
excessiva da família. É sempre "para o nosso bem", mas como cobram!
Primeiro enchem o saco anos a fio para que larguemos o cigarro; quando, a duras
penas, conseguimos, começam a nos torturar pelo fato dos quilos a mais,
inerentes a todos os ex-fumantes. Daí intensificam as cobranças pelas
academias, exigindo uma vida de atleta para quem gosta mesmo é de ler e
escrever. Haja saco!
Com isso, vamos nos especializando em desculpas: quando esquentar,
porque a piscina é fria; quando esfriar porque a musculação é quente; quando
não chover, porque caminhar na esteira é muito sem graça e na rua é mais
divertido; quando não tiver outro compromisso; quando a netinha crescer; quando
for lua cheia; quando for segunda-feira; quando começar o mês. E por aí vai.
Não seria preciso inventar tantas desculpas se as cobranças não fossem tão
intensas!
Até que ponto essas exigências familiares dão resultado?
Não serão contraproducentes?
Sem elas, será que nos acomodaríamos?
Teremos nos tornado dependentes dessas admoestações?
Desculpas para não ir ao dentista, para adiar um exame mais doloroso ou temido,
para não estudar para um concurso, para não visitar um parente ou amigo do qual
gostamos pouco, para não se mexer, para não fazer dieta, para não largar um
vício. Desculpas para tudo!
Eu cheguei a ter três empregos ao mesmo tempo, criei três meninos, pós graduei-me sem usá-los como desculpa e hoje me vejo adiando coisas pequenas,
sem ânimo para retomar as rédeas da minha vida.
Bruninha diz que colo de vó tem que ser fofinho; acho mais bacana
uma velha matrona, rechonchuda, do que magra e pelancuda; cerveja e sorvete na
praia não dá pra dispensar (ainda mais com a melhor sorveteria dos Ingleses na
esquina da minha casa!), enfim... as desculpas são várias e válidas, como podem
ver!
Claro que eu queria ter aquele corpinho que tive até os cinquenta anos! Claro
que eu queria sentir todas aquelas coisas boas e fortes que sentia naquela
época! Será que engordamos por não nos sentirmos desejadas, ou deixamos de ser
desejadas porque engordamos? Nelson Rodrigues dizia (em uma peça de teatro) que
até um câncer no seio de uma mulher é o desejo apodrecendo dentro dela.
Forte? Ou real?
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