Elas tinham se tornado amigas íntimas nas redes sociais.
Eram confidentes e chegavam a ler nas entrelinhas o que a outra não dizia, tal
a empatia e afinidade que descobriram “conversando” nas noites de insônia e nas
madrugadas silenciosas. Hoje, eram bem mais próximas do que no tempo em que
estudaram juntas na velha escola da cidade natal.
Morando em estados diferentes, há bastante tempo não se viam
pessoalmente, aliás, desde a juventude nos tempos de escola. Na verdade,
naquela época se cruzavam diariamente nos corredores do colégio, mas nunca
tinham sido muito próximas.
Como a maioria dos amigos, encontraram-se nas redes sociais
e a foto do perfil remontava a um tempo em que não tinham ainda se
reencontrado, mas isto não as incomodava nem um pouco. Eles adoravam conversar,
despir a alma, falar nos filhos, mostrar fotos dos netos, se queixar da vida,
celebrar bons momentos.
Lá pelas tantas, surgiu a oportunidade delas se encontrarem,
quando uma visitava a cidade da outra. E marcaram um café. Cheias de
expectativa formam se encontrar, loucas pra comentar os últimos acontecimentos,
certas de que seria apenas um encontro físico de duas almas que já viviam
juntas.
Antes da hora marcada já se dirigiam ao local, saboreando as
novidades, loucas pelo abraço.
A da cidade chegou primeiro, escolheu uma mesa de canto,
onde pudessem prosear à vontade sem serem perturbadas. Apenas aquela ansiedade
natural de quem não se vê há muito tempo e quer esmagar a saudade no abraço.
Finalmente, um táxi encosta na calçada e dele salta uma
senhora rechonchuda, de físico avantajado, rosto envelhecido, um arquétipo
grotesco daquela normalista lépida e descia correndo a escadaria de mármore da
escola. Mas era ela. Dava para perceber.
Na mesa do canto, uma mulher elegante, diferente daquela
magricela desengonçada da juventude, com a pele esticada, lábios carnudos onde
antes havia uma boca fininha, apenas as mãos e o pescoço evidenciando o passar
do tempo. Mesmo naquele olhar esticado dava para perceber que os olhos eram os
mesmos. Era ela.
Passado o constrangimento inicial, terminada a análise, veio
o abraço. A voz era ainda a mesma e os olhos não mentiam, ainda que soterrados
em pálpebras numa e esticado na outra. Lá no fundo, tinham o mesmo brilho de
antigamente.
Aos poucos, elas foram se reencontrando, desviando o olhar
da matéria e reencontrando as tantas afinidades que descobriram nas redes
sociais.
Nas fotos que pediram ao garçom para tirar elas se abraçavam
e sorriam, não como duas senhoras marcadas pelo tempo, mas como duas colegiais
que venceram o tempo e fizeram valer o essencial, que, como disse Saint-Exupéry, é mesmo “invisível aos olhos e só se vê bem com o coração.”
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