domingo, 28 de maio de 2017

POR TRÁS DAQUELE GG



                         Elas tinham se tornado amigas íntimas nas redes sociais. Eram confidentes e chegavam a ler nas entrelinhas o que a outra não dizia, tal a empatia e afinidade que descobriram “conversando” nas noites de insônia e nas madrugadas silenciosas. Hoje, eram bem mais próximas do que no tempo em que estudaram juntas na velha escola da cidade natal.
                        Morando em estados diferentes, há bastante tempo não se viam pessoalmente, aliás, desde a juventude nos tempos de escola. Na verdade, naquela época se cruzavam diariamente nos corredores do colégio, mas nunca tinham sido muito próximas.
                       Como a maioria dos amigos, encontraram-se nas redes sociais e a foto do perfil remontava a um tempo em que não tinham ainda se reencontrado, mas isto não as incomodava nem um pouco. Eles adoravam conversar, despir a alma, falar nos filhos, mostrar fotos dos netos, se queixar da vida, celebrar bons momentos.
                        Lá pelas tantas, surgiu a oportunidade delas se encontrarem, quando uma visitava a cidade da outra. E marcaram um café. Cheias de expectativa formam se encontrar, loucas pra comentar os últimos acontecimentos, certas de que seria apenas um encontro físico de duas almas que já viviam juntas.
                        Antes da hora marcada já se dirigiam ao local, saboreando as novidades, loucas pelo abraço.
                        A da cidade chegou primeiro, escolheu uma mesa de canto, onde pudessem prosear à vontade sem serem perturbadas. Apenas aquela ansiedade natural de quem não se vê há muito tempo e quer esmagar a saudade no abraço.
                         Finalmente, um táxi encosta na calçada e dele salta uma senhora rechonchuda, de físico avantajado, rosto envelhecido, um arquétipo grotesco daquela normalista lépida e descia correndo a escadaria de mármore da escola. Mas era ela. Dava para perceber.
                       Na mesa do canto, uma mulher elegante, diferente daquela magricela desengonçada da juventude, com a pele esticada, lábios carnudos onde antes havia uma boca fininha, apenas as mãos e o pescoço evidenciando o passar do tempo. Mesmo naquele olhar esticado dava para perceber que os olhos eram os mesmos. Era ela.
                      Passado o constrangimento inicial, terminada a análise, veio o abraço. A voz era ainda a mesma e os olhos não mentiam, ainda que soterrados em pálpebras numa e esticado na outra. Lá no fundo, tinham o mesmo brilho de antigamente.
Aos poucos, elas foram se reencontrando, desviando o olhar da matéria e reencontrando as tantas afinidades que descobriram nas redes sociais.
Nas fotos que pediram ao garçom para tirar elas se abraçavam e sorriam, não como duas senhoras marcadas pelo tempo, mas como duas colegiais que venceram o tempo e fizeram valer o essencial, que, como disse  Saint-Exupéry, é mesmo “invisível aos olhos e só se vê bem com o coração.”





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