“O que é a glória? Ouvir um monte de asneiras a seu próprio
respeito.”
Gustave Flaubert
Uma única vez na história do Prêmio Nobel de Literatura foi
agraciado um escritor de língua portuguesa. José Saramago, escritor português,
conseguiu vencer o bloqueio da quase inexpressividade do nosso vernáculo e
sagrou-se o melhor entre os melhores em 1998.
Percorreu o Brasil recebendo homenagens, participando de
Congressos, palestras, recebendo títulos e respondendo a infindáveis perguntas
em programas de televisão que, inclusive, já lhe granjearam a fama de mal-humorado
e avesso à imprensa. Não deve ser fácil, convenhamos, para um homem culto, com
mais de setenta anos, responder certas imbecilidades que lhe perguntavam, como,
por exemplo, o que ele faria com o dinheiro do prêmio recebido.
Tive a sorte de assistir, enquanto professora da UFSC, uma
verdadeira aula dele sobre a tendência da literatura de entrecruzar-se com a
História; técnica, aliás, muito utilizada em seus livros. Saramago dizia que o
escritor, num primeiro momento, viaja até seu passado para buscar os fatos que
comporão sua história e que, nesta viagem, certamente ficarão muitas lacunas,
muitos desvãos perdidos na memória. Pois é nesse ponto que entra a ficção, como
se carregasse um candeeiro e fosse iluminando, recriando e inventando fatos que
preenchessem os lugares vazios.
Ano passado (2015) foi a vez de uma ucraniana receber a
máxima láurea, escrevendo sobre a história das guerras do seu país e do
desastre nuclear em Chernobyl. Mais uma vez, a literatura aparece de mãos dadas
com a História, uma complementando a outra, uma preenchendo as lacunas deixadas
pela outra. Svetlana Aleksiévitch dá voz a múltiplas vozes de quem viveu e
sofreu as consequências de tragédias históricas da antiga URSS, num concerto de
vozes doloridas, conformadas, pungentes, revoltadas.
A literatura e a história servem para registrar momentos
marcantes da humanidade, para alertar sobre os riscos iminentes que cercam a
civilização e para criar um depoimento, tão isento quanto possível, sobre os
fatos. Nem o escritor, tampouco o historiador consegue a isenção absoluta, pois
as palavras passam por seu crivo pessoal e a sua escolha pode determinar uma
ótica contra ou a favor; o feio e o bonito, o bem e o mal sendo destacados ou
omitidos.
A academia sueca lê e premia os melhores anualmente, com o
Prêmio Nobel, criado pelo sueco Alfred Nobel a partir de 1895. Tem seus
critérios e nem sempre o mundo concorda com eles, no entanto, dada a
dificuldade de acompanharmos a literatura universal, dependendo de traduções e
edições, sempre vale a pena conferir a obra dos escritores laureados.
Você já leu Saramago? Vale a pena.
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