A vida nas cidades grandes e pequenas costuma ser diferente.
O ritmo é outro, as opções de lazer são diversificadas e o relacionamento com
os vizinhos não foge à regra.
Nas casas, a vizinhança tem outras características, com
acenos nos portões, espiadas pela janela ou pelo muro do quintal, enfim, os
vizinhos se constituem numa companhia silenciosa (às vezes não muito) e
invisível.
Nos apartamentos a coisa muda de figura. Temos seres muitas
vezes desconhecidos convivendo sobre a nossa cabeça, sob os nossos pés ou ao
lado da nossa cama. Nos prédios com pouco isolamento acústico, ou paredes mais
finas, nós os ouvimos no chuveiro, escutamos suas risadas, suas brigas, o
cheiro dos seus temperos, o som das suas músicas ou da sua TV e os latidos do
seu cachorro, mesmo que nem saibamos seus nomes. Sem falar nos encontros mais
íntimos que, às vezes, parecem acontecer na nossa própria cama, tais os rangidos
de molas e exclamações.
Os vizinhos de apartamentos se constituem numa presença
constante e invisível, que se manifesta através de ruídos, numa proximidade bem
maior do que a gente tem com os próprios parentes.
Mesmo sem querer, dividimos com os vizinhos partes
importantes da nossa vida e até do nosso destino. Se algum perturbado
resolvesse tacar fogo na casa, seríamos imediatamente atingidos. Se uma pessoa irresponsável
ou suicida deixasse o gás ligado, a fatalidade nos atingiria em cheio. Enfim,
poderíamos morrer junto com pessoas que mal conhecemos e com quem nunca
falamos. Não é incrível isso?!
Quando falta água ou luz, dividimos a mesma irritação e até
palavrões parecidos. As tormentas, os ventos e raios nos atingem por igual,
ainda que mal mexamos os lábios para cumprimentar aquele com que cruzamos na
porta de entrada.
Tudo isso significa que a proximidade física não traz nenhum
conhecimento sobre as pessoas. Conhecemos muito mais amigos que nunca
encontramos pessoalmente e com quem conversamos nas redes sociais do que essas
pessoas que vivem tão próximas e sobre as quais sabemos tão pouco. Como bem disse
o Pequeno Príncipe, “o essencial é invisível aos olhos” e a vizinhança, por si
só, não aproxima ninguém.
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