terça-feira, 13 de setembro de 2016

VIZINHOS



                              A vida nas cidades grandes e pequenas costuma ser diferente. O ritmo é outro, as opções de lazer são diversificadas e o relacionamento com os vizinhos não foge à regra.
                             Nas casas, a vizinhança tem outras características, com acenos nos portões, espiadas pela janela ou pelo muro do quintal, enfim, os vizinhos se constituem numa companhia silenciosa (às vezes não muito) e invisível.
                            Nos apartamentos a coisa muda de figura. Temos seres muitas vezes desconhecidos convivendo sobre a nossa cabeça, sob os nossos pés ou ao lado da nossa cama.  Nos prédios com pouco isolamento acústico, ou paredes mais finas, nós os ouvimos no chuveiro, escutamos suas risadas, suas brigas, o cheiro dos seus temperos, o som das suas músicas ou da sua TV e os latidos do seu cachorro, mesmo que nem saibamos seus nomes. Sem falar nos encontros mais íntimos que, às vezes, parecem acontecer na nossa própria cama, tais os rangidos de molas e exclamações.
                          Os vizinhos de apartamentos se constituem numa presença constante e invisível, que se manifesta através de ruídos, numa proximidade bem maior do que a gente tem com os próprios parentes.
                          Mesmo sem querer, dividimos com os vizinhos partes importantes da nossa vida e até do nosso destino. Se algum perturbado resolvesse tacar fogo na casa, seríamos imediatamente atingidos. Se uma pessoa irresponsável ou suicida deixasse o gás ligado, a fatalidade nos atingiria em cheio. Enfim, poderíamos morrer junto com pessoas que mal conhecemos e com quem nunca falamos. Não é incrível isso?!
                         Quando falta água ou luz, dividimos a mesma irritação e até palavrões parecidos. As tormentas, os ventos e raios nos atingem por igual, ainda que mal mexamos os lábios para cumprimentar aquele com que cruzamos na porta de entrada.
                        Tudo isso significa que a proximidade física não traz nenhum conhecimento sobre as pessoas. Conhecemos muito mais amigos que nunca encontramos pessoalmente e com quem conversamos nas redes sociais do que essas pessoas que vivem tão próximas e sobre as quais sabemos tão pouco. Como bem disse o Pequeno Príncipe, “o essencial é invisível aos olhos” e a vizinhança, por si só, não aproxima ninguém.






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