segunda-feira, 19 de setembro de 2016

INDIVÍDUOS INDIVISÍVEIS



                           A raça humana é múltipla, de todas as cores, credos, sentimentos, desejos e modos de viver. Cada um sente de um jeito e há os que nem sentem nada além das necessidades básicas de comer, beber, dormir e, às vezes, fazer sexo.
                          Há os que choram por tudo, com ou sem razão aparente e os que não choram nunca, mesmo diante das maiores catástrofes. Os que se apiedam do sofrimento alheio e os que não se tocam com a desgraça dos outros. Os que recolhem animais abandonados nas ruas e os que jogam seus próprios animais como se fossem descartáveis.
                         Alguns sofrem pelos outros, sentem as dores alheias, se comovem, enquanto outros fazem piada de tudo, menosprezam, ridicularizam e procuram sempre o viés do escárnio e do maldizer.
                        O sofrimento, a necessidade a uns impulsiona para o bem, para a superação, enquanto outros se valem disso para causar sofrimento em pessoas inocentes, vingando-se do que elas não têm culpa, ao invés de procurarem as razões bem perto de si.
                       Deficientes e acidentados se tornam atletas, num esforço gigantesco; pessoas normais matam, sequestram, maltratam, estupram, torturam, pelo prazer de ver sofrer e subjugar quem não lhe fez mal algum. Serão todos humanos?!
                       Existem pessoas, inclusive ligadas por laços de parentesco, que raramente nos visitam e das quais poucas notícias temos. Os personagens das novelas que assistimos estão diariamente na nossa sala, confabulando com nossos anseios, representando nossa condição, questionando a vida e os relacionamentos. Quando um deles, no momento o mais carismático e importante na trama do folhetim que acompanhamos há vários meses, morre de verdade e de repente, de uma forma totalmente inesperada, num piscar de olhos e numa mancada inexplicável, é claro que sentimos pena, que ficamos impressionados, que nos sentimos um pouco de luto também.
                       Que pena que o ator Domingos Montagner, que morreu afogado no rio São Francisco nesta semana, partiu dessa vida sem saber que era tão amado, tão admirado, tão importante para as artes cênicas e tão querido pelos colegas de profissão. Imagino a alegria dele se pudesse ter ouvido as declarações, as homenagens, os elogios, o reconhecimento por seu trabalho e por seu caráter. Que pena que economizamos tanto nos elogios e somos tão prolixos nas críticas!
                        Como sempre, estamos tendo uma overdose de homenagens e de aparições do ator. Mas não se enganem que nosso povo tem a memória bem curta. Infelizmente. Daqui a pouco ninguém mais fala nele, sequer se lembra de todas essas qualidades que fizeram seu diferencial e continuam tocando sua vida à espera de uma nova tragédia, ou de uma grande fofoca para movimentar a opinião pública e encher os periódicos.
                        Triste mesmo vai ser a falta que ele vai fazer para os filhos...
                        Essa sim será para sempre!




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