segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

PERDAS



                       Não se perde o que nunca se teve. Será?
                       Perde sim. Quando já havia um caminho, um plano, uma doce perspectiva para ele. Ou ela.
                       Hoje perdi meu quinto neto. Ou neta. Era ainda muito pequenininho, com apenas onze semanas de existência no útero da mãe, mas não é que a gente já aprendera a gostar dele? Ou dela?
                       Ainda não sabíamos quase nada sobre ele, nem mesmo se seria mais uma linda menina, ou um meninão. Se ia se parecer com o pai, com a mãe, ou com a irmãzinha. Se seria estudioso, calmo ou agitado, alto ou baixo, se gostaria de música, se tocaria algum instrumento, se um dia ia querer morar fora do Brasil.
                      Agora, o que a gente já sabia é que seria muito amado, que sua mãe lhe traria sempre limpo e cheiroso, que sua irmã ia morrer de ciúme de quem se aproximasse dele e que seu pai ia lhe fazer rir muito. Sabia também que a vovó ia embalar bastante na cadeira de balanço e que a Bisa ia aproveitar enquanto era pequenininho para poder pegar bastante no colo.
                   Já se sabia que ele teria quatro primos e tios que iam mimá-lo muito. Que teria duas avós e quatro avôs bem dedicados e que seria o xodozinho mais novo da família, pelo menos até o tio solteiro resolver ter filhos.
                    Ele era muito pequeno, no entanto, já trazia consigo o DNA das famílias e os genes que definiriam muitas coisas em sua existência.
                   A sensação de perda é inevitável. Para os pais, para a irmã que estava vibrando com sua chegada e para essa avó que, enquanto não escreve, não desata o nó do peito.
                   Que pena... Vamos sentir falta de falar nele. Ou nela.
                   Ainda bem que este dia 29 de fevereiro vai levar quatro anos para se repetir. Ainda bem.


Um comentário:

Rita Faraco disse...

Que pena, Maria Luiza. Sinto muito mesmo. Já passei por essa perda como avó e a tristeza foi muito grande. Um abraço cheio de carinho.