Não faz muito tempo que eu nem saberia o que isso significava, no
máximo atribuindo o adjetivo a algum filme de ficção científica.
Fui criada para tocar piano e ter uma caligrafia redonda, bonita,
desenhando frases de amor em papéis de linho, cuidadosamente guardados em
caixas perfumadas.
Não fiz nem curso de datilografia, porque não pretendia trabalhar
em escritórios e adorava escrever à mão.
Cedo precisei aprender a usar a máquina de escrever, pois as
palavras surgiam aos borbotões e os trabalhos escolares e acadêmicos aumentavam
o calo da caneta no dedo médio, antiestético demais para uma pianista.
Comprei o primeiro computador para os filhos universitários e por
eles fui apresentada à magia da informática ... que detestei! Informática, para
mim, estava associada à matemática, cálculos, coisas exatas, palpáveis,
concretas, sem surpresas ou margem para devaneios.
Tentei escrever minhas crônicas para jornal na tal geringonça e
perdi várias delas. Num piscar de olhos, numa tecla apertada erradamente...vupt!
sumia tudo. E eu aumentava meu repertório de palavrões.
Sou resistente à tecnologia como quase todo mundo da minha
geração. Talvez por termos tido que enfiá-la goela abaixo, sem tempo para um
efetivo aprendizado (hoje as crianças aprendem já no jardim da infância), caso
não quiséssemos perder o bonde da história.
Baixa conexão, textos perdidos, tudo travado, enfim, essas coisas
ainda hoje me deixam muito irritada e a inspiração cede lugar à frustração.
Uma bela noite (nem sei se era bela), meu filho Cristiano entrou
num chat ( isso
faz uns dez anos), inventou um nome para mim, levantou da cadeira e me disse: "- Vem! Tem gente querendo falar
contigo!"
Daí não parei mais. Troquei minhas cartas por e-mails (imensos!) e
num chat conheci meu segundo e atual marido, mais real impossível!
Tenho amigos de toda uma vida espalhados neste brasilzão. Volta e
meia encontro um deles nas redes sociais e é aquela festa!
Quando Bruninha nasceu (antes do tempo previsto), foi dos
"amigos virtuais" que recebi o maior apoio e minhas conquistas são
celebradas com eles. Uma amiga portuguesa já me enviou até um CD dos fados da
Amália Rodrigues que eu retribuí com meu livro Gazeteando.
Fico decepcionada quando revejo pessoas que eu admirava por sua
inteligência e brilhantismo, totalmente à margem dos contatos cibernéticos,
criando uma lacuna intransponível em nossa comunicação, ou dificultando-a
muito, já que não aprecio nem um pouco o telefone.
É bem verdade que outros me surpreendem agradavelmente. Amigos que
já passaram dos setenta, até o pai de uma amiga, enviando e-mails, lendo meu
blog, comunicando-se.
Será que andar num shopping
abarrotado de desconhecidos é mais "real" do que escrever para uma
dúzia de pessoas, ser lido, respondido, comentado por elas?
O jornalismo, então, não pertence ao mundo real?
E a força da palavra escrita?
É nela que acredito.
Se expressei meu ponto de vista, ou meus sentimentos através de
palavras e se você, ao lê-las, conseguiu "sentir" o que escrevi, isso
não é virtual.
É muito real!
Um comentário:
Olá, querida Maria Luiza
Muito bom vc não ter medo e se aventurar, com afico, no mundo virtual!
Bjm fraterno
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