sexta-feira, 24 de julho de 2015

MINHA RUA




                            Nasci, cresci, estudei, namorei e casei na mesma casa da rua Mariz e Barros, em Alegrete. Lá vi meus filhos bebês, depois aprendendo a caminhar no jardim, correndo, andando de bicicleta e aprendendo a dirigir no Fiat 147 do meu pai.
                            A maior parte dos meus amigos morava nesta rua, em todas as casas da primeira quadra e algumas da segunda e da terceira quadra da Mariz e Barros. As mães de alguns deles tinham sido amigas de infância e juventude da minha mãe e moravam na mesma casa desde então.  A rua era muito mais que um endereço, era uma referência importante na história de todas aquelas famílias.
                          De manhã cedinho saíamos em bando para a mesma escola e voltávamos juntos, correndo pelas ruas e pela praça, sumindo nos portões, para reaparecer bem mais tarde, depois da sesta e dos deveres escolares feitos, para brincar nas calçadas, nos pátios e até no meio da rua de paralelepípedos, onde os carros passavam raramente e devagar. As calçadas de grandes lajotas permitiam que se riscasse nelas a sapata (amarelinha) e pulássemos ali um bom tempo. Nos halls de entrada das casas jogávamos as Cinco Marias, muitas delas feitas com mármore conseguidas de sobras do cemitério. Ali também montávamos as casas das bonecas e tudo era grande, espaçoso, divertido!
                          Na minha rua passavam todos os desfiles: de gaúchos, de soldados e de estudantes e nossas sacadas eram concorridas pelos amigos de outras ruas. Nesses dias, já costumávamos preparar um reforço de água gelada, pois os transeuntes, espectadores e os que já tinham desfilado costumavam pedir um copo de água para suportar o sol na beira das calçadas. Depois do desfile dos gaúchos e da cavalaria do quartel, a rua ganhava um tapete verde, de cheiro característico, que guardo na minha memória olfativa até hoje.
                          Minha rua era quase uma continuação da praça central da cidade, pois minha casa ficava a apenas meia quadra dela. Então, nosso quintal, que já era enorme, se estendia à praça, onde corríamos ainda mais livres, brincando no chafariz, pedalando, voando nos patinetes e colhendo flores sem autorização. Em frente à praça ficava a Igreja das missas dominicais e muitas novenas antes das provas. Ali fiz a Primeira Comunhão, casei e batizei meus filhos. Logo a seguir vinha o Clube onde toda a minha turma debutou, onde nos esbaldamos nos carnavais e depois levamos os herdeiros nos bailes infantis.
                          A rua, a praça, a escola, a igreja, o bairro todo era um território livre para nós, onde podíamos transitar sozinhos ou com os amigos, sem medo, sem perigos. A liberdade das crianças era imensa, por isso se aprendia bem mais cedo a resolver problemas, a caminhar pelas ruas, a descobrir coisas, sem um adulto sempre por perto e com portas sem chaves, sem cadeados, sem grades!
                         Minha rua era uma extensão da minha casa, assim como meus amigos eram também irmãos, para brincar e para brigar. Ela está presente em cada uma das minhas recordações e não há como esquecê-la, até porque as crianças de ontem são amigos até hoje e ainda nos reunimos, nos abraçamos e falamos com muita saudade da melhor infância do mundo, pulando muros e subindo em árvores, dos namoros nos portões, das confidências e de tudo o que representou e representa para nós a Rua Mariz e Barros.





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