Nasci, cresci, estudei, namorei e casei na mesma casa da rua
Mariz e Barros, em Alegrete. Lá vi meus filhos bebês, depois aprendendo a
caminhar no jardim, correndo, andando de bicicleta e aprendendo a dirigir no
Fiat 147 do meu pai.
A maior parte dos meus amigos morava nesta rua, em todas as
casas da primeira quadra e algumas da segunda e da terceira quadra da Mariz e
Barros. As mães de alguns deles tinham sido amigas de infância e juventude da
minha mãe e moravam na mesma casa desde então.
A rua era muito mais que um endereço, era uma referência importante na
história de todas aquelas famílias.
De manhã cedinho saíamos em bando para a mesma escola e
voltávamos juntos, correndo pelas ruas e pela praça, sumindo nos portões, para
reaparecer bem mais tarde, depois da sesta e dos deveres escolares feitos, para
brincar nas calçadas, nos pátios e até no meio da rua de paralelepípedos, onde
os carros passavam raramente e devagar. As calçadas de grandes lajotas
permitiam que se riscasse nelas a sapata (amarelinha) e pulássemos ali um bom
tempo. Nos halls de entrada das casas jogávamos as Cinco Marias, muitas delas feitas
com mármore conseguidas de sobras do cemitério. Ali também montávamos as casas
das bonecas e tudo era grande, espaçoso, divertido!
Na minha rua passavam todos os desfiles: de gaúchos, de
soldados e de estudantes e nossas sacadas eram concorridas pelos amigos de
outras ruas. Nesses dias, já costumávamos preparar um reforço de água gelada,
pois os transeuntes, espectadores e os que já tinham desfilado costumavam pedir
um copo de água para suportar o sol na beira das calçadas. Depois do desfile
dos gaúchos e da cavalaria do quartel, a rua ganhava um tapete verde, de cheiro
característico, que guardo na minha memória olfativa até hoje.
Minha rua era quase uma continuação da praça central da
cidade, pois minha casa ficava a apenas meia quadra dela. Então, nosso quintal,
que já era enorme, se estendia à praça, onde corríamos ainda mais livres,
brincando no chafariz, pedalando, voando nos patinetes e colhendo flores sem
autorização. Em frente à praça ficava a Igreja das missas dominicais e muitas
novenas antes das provas. Ali fiz a Primeira Comunhão, casei e batizei meus
filhos. Logo a seguir vinha o Clube onde toda a minha turma debutou, onde nos
esbaldamos nos carnavais e depois levamos os herdeiros nos bailes infantis.
A rua, a praça, a escola, a igreja, o bairro todo era um
território livre para nós, onde podíamos transitar sozinhos ou com os amigos,
sem medo, sem perigos. A liberdade das crianças era imensa, por isso se
aprendia bem mais cedo a resolver problemas, a caminhar pelas ruas, a descobrir
coisas, sem um adulto sempre por perto e com portas sem chaves, sem cadeados,
sem grades!
Minha rua era uma extensão da minha casa, assim como meus
amigos eram também irmãos, para brincar e para brigar. Ela está presente em
cada uma das minhas recordações e não há como esquecê-la, até porque as
crianças de ontem são amigos até hoje e ainda nos reunimos, nos abraçamos e
falamos com muita saudade da melhor infância do mundo, pulando muros e subindo
em árvores, dos namoros nos portões, das confidências e de tudo o que
representou e representa para nós a Rua Mariz e Barros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário