segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

PEQUENA GRANDE FELICIDADE




Gaúcho é gaúcho, onde quer que esteja. Não disfarça o sotaque, não esconde a cuia, não cochicha, expressando com clareza e em bom som suas opiniões e farejando à distância outro gaúcho, até pelo tamanho do sorriso ou a firmeza do olhar.  Nossa história e a localização geográfica do nosso Estado explicam muito da nossa maneira de ser.
Dia desses, assumiu um estacionamento pertinho da minha casa um casal de “gringos” da serra gaúcha. Nas duas pecinhas minguadas que o antigo dono usava para escritório eles se acomodaram. A casinha brilha, limpíssima, com uma foto em preto e branco de uma linda moça na parede, fotinho pequena, moldura tosca. Não sei se a moça é filha, não quis perguntar, mas só sei que é bonita e importante para eles, pois foi o primeiro e até agora único enfeite na parede estreita.
À tardinha, nesse calor infernal de verão, muitas pessoas voltam apressadas e suarentas para suas casas; outras, amantes da boa-vida, se refrescam em divertidos happy-hours; há ainda as consumistas que se esbaldam no frescor dos shoppings - centers, empanturrando-se de hambúrgueres e pizzas. Madames passeiam com seus cãezinhos, inclusive eu, que nem sou madame. Vejo o gauchinho estendendo a toalha com esmero, cabelos molhados e penteados, sentando-se na corrente de ar, com uma espumante cuia de chimarrão. Do jeitinho que fazem os gaúchos de todas as partes do Brasil, inclusive do meu Alegrete.
Não bebem, não fumam, nem tomam vinho, mesmo sendo de Farroupilha. Trabalham – e muito! – lavam carros, limpam imaculadamente a casinha minúscula e são um CASAL. Dessas pessoas, e só dessas, sinto inveja. Uma inveja boa, daquela que não quer prejudicar ninguém.
Em certos apartamentos, a música é tão alta que inviabiliza qualquer tipo de conversa. Noutros, o computador isola um ou outro membro da família. Gritos, xingamentos, bater de portas lá em cima. Silêncio nas casas de onde os filhos já partiram. Novelas. Futebol. Um ou outro cheiro de comida. Nada tão aprazível quanto aquela conversa comprida do meu casalzinho de meia-idade, cabelos molhados, toalhas branquinhas estendidas num varal improvisado, cuia dividida, lembranças compartilhadas.
A essa hora, devem ter rezado juntos e estar dormindo abraçadinhos em 30m2, pois amanhã, com o sol, começa tudo de novo. Que Deus os abençoe!








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