Desde que meu pai adquiriu o primeiro aparelho de TV assisto
uma novela por noite. Aliás, comecei assistindo no vizinho, antes mesmo dele
comprar (para a Copa de 70). Não tenho tempo, nem disposição para mais de uma
novela; no entanto, faço questão de assistir a que passava às 20h, depois
20:30h e hoje às 21h. É meu combustível ficcional. Penso que o escritor que não
aprecia uma novelinha, peça de teatro ou filme, escreverá apenas livros técnicos.
Ontem acabou mais uma grande novela - Amor à vida – que,
como todas, teve altos e baixos, gerou polêmica, frustração, indignação e expectativa.
Um grande elenco e alguns desempenhos absolutamente impressionantes, como o do
veterano Antônio Fagundes e do semi-novato Mateus Solano.
O frenesi maior
estava por conta do primeiro beijo gay nas novelas brasileiras. Não sei se me
modernizei em tempo recorde, ou se a mídia fez um bom trabalho em mim; a
verdade é que não me escandalizei e até achei que existe mesmo o tão falado “beijo
técnico”, uma vez que não senti nada além de um selinho no beijo dos dois, quem
sabe pelo fato dos atores serem heterossexuais assumidos, ou porque quiseram
mesmo ir mais devagar.
Como em quase todas as novelas, nesta não foi diferente: no
meio “criam barriga”, se arrastam e depois, no último capítulo, resolvem tudo a
toque de caixa. Essa fórmula é imutável e deve ter algum sentido, pois praticamente
todos os autores fazem uso dela.
Não sou comentarista, nem pretendo ser, o que desejo apenas
é registrar “Le grand finale”, magistralmente escrito pelo autor – Walcyr Carrasco
e interpretado por Fagundes e Mateus Solano, no papel de pai e filho, César e
Félix, respectivamente.
A cena foi de uma delicadeza, de uma profundidade, de uma
beleza ímpar! Aquelas mãos entrelaçadas diante das ondas do mar, sentados de
costas, acredito que vá ficar para sempre na galeria das mais bem montadas.
O grande drama da novela era a rejeição do pai pelo filho
gay. O desamor paterno que impeliu o filho a cometer atos injustos e sofrer
tanto ou mais que suas vítimas. Foi genial a imagem da cegueira dos olhos do
pai permitindo que se abrisse nele a terceira visão, a mais importante, a da alma
e, finalmente, confessado que também amava o filho.
Um final surpreendente, sensível, humano, que deve ter
tocado fundo nos sentimentos de tantos pais e filhos que a vida não consegue
harmonizar.
Temos dois dias para saborear essa última cena, porque segunda-feira
o encantamento recomeça!
Para quem gosta, é claro!
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