terça-feira, 28 de maio de 2013

AS BOAS MULHERES DA CHINA



        Este é o título do livro que estou lendo no momento. Escrito pela jornalista XINRAN, traduzido por Manoel Paulo Ferreira e publicado pela Companhia das Letras, em 2003.
        Trata-se de um livro escrito a partir de fatos e depoimentos reais e é tão interessante que a minha vontade é de contar tudo o que leio a vocês.
        Vou, então, destacar algumas passagens que elucidam um pouco da decantada “liberdade” da Revolução Comunista na China e, acredito, em muitos outros países.
        Tanto o livro quanto os textos destacados no mesmo atentam para o lado pessoal e não político, notadamente o lado das mulheres. Confiram:

        Pra começar, um antigo provérbio chinês, atribuído a Confúcio:
        "Numa mulher, a falta de talento é uma virtude.”

         Hábitos austeros conduziam as pessoas e as famílias:
        “Na casa do meu avô vigoravam normas severas. Às refeições, se alguém fizesse um ruído ao comer, afastasse a mão esquerda da tigela de arroz ou violasse alguma outra regra, meu avô pousava os pauzinhos e se retirava. Depois disso, ninguém podia continuar comendo e todos tinham que ficar com fome até a refeição seguinte.”

        A tal “liberdade” e “igualdade” advindas com o comunismo são descritas em muitas passagens, sussurradas por mulheres medrosas, apavoradas com o que sofreram, sem voz, nem vez. Vítimas inocentes de fanatismos políticos dos quais nunca sequer chegaram a tomar parte.
        “Como filha de um burguês capitalista, minha mãe logo foi detida para investigação também e proibida de voltar para casa. Meu irmão e eu fomos transferidos para acomodações para crianças cujos pais estavam presos.
        Na escola eu era proibida de dançar e cantar com as outras meninas, para não “poluir” a arena da revolução. Embora míope, não podia sentar na primeira fileira da sala, porque os melhores lugares eram reservados para os filhos de camponeses, operários ou soldados, que tinham “raízes retas e brotos vermelhos”. Também não podia ficar na primeira fila nas aulas de Educação Física, embora fosse a menor da classe, porque os lugares perto do professor erma para a “próxima geração da revolução”.
        Junto com as outras crianças “poluídas”, cuja idade ia de dois a catorze anos, meu irmão e eu tínhamos que assistir a uma aula de estudos políticos depois da escola, e não podíamos participar de atividades extracurriculares com as crianças da nossa idade. Não tínhamos permissão de assistir a filmes, nem mesmo aos mais ardorosamente revolucionários, porque tínhamos que “reconhecer completamente” a natureza reacionária das nossas famílias. Na cantina, éramos os últimos a serem servidos, porque meu avô paterno havia “ajudado os imperialistas britânicos e americanos a tirar comida da boca dos chineses e roupas dos seus corpos.”

        O pai da menina em questão era membro da Associação Chinesa de Engenheiros mecânicos de Alto Nível e especialista em mecânica elétrica. O avô paterno havia trabalhado durante trinta e cinco anos para a empresa britânica GEC. E, por haver muitos objetos de arte e históricos na casa deles, foram acusados de serem “representantes do feudalismo, do capitalismo e do revisionismo.”
        “Lembro dos guardas vermelhos remexendo na casa toda e de uma grande fogueira no nosso pátio, onde lançaram os livros de meu pai, os preciosos móveis tradicionais de meus avós e meus brinquedos. Meu pai tinha sido preso e levado embora. Assustada e triste, fiquei olhando as chamas, estuporada. Como que ouvindo os pedidos de socorro vindos do meio delas. O fogo consumiu tudo:  a casa que fazia pouco tempo eu chamava de minha, minha infância até então feliz, minhas esperanças e o orgulho da minha família com sua cultura e seus bens. Deixou-me mágoas ardentes que levarei comigo até a morte.
        À luz do fogo, uma garota com uma braçadeira vermelha veio na minha direção empunhando uma grande tesoura. Agarrou as minhas tranças e disse: “este estilo de cabelo é pequeno-burguês.”
        Antes que eu entendesse o que ela dizia, cortou as minhas tranças e jogou-as no fogo. Arregalei os olhos, sem fala, vendo as tranças e os laços bonitos se transformarem em cinzas. Quando os guardas vermelhos foram embora, a garota que me havia cortado as tranças me disse: “A partir de hoje você fica proibida de prender o cabelo com fitas. É um estilo de cabelo imperialista!”

        Afastadas dos pais, jogadas em abrigos, hostilizadas, as crianças forma vítimas inocentes da Revolução.
        “Um dia levei meu irmão, que ainda não tinha três anos, para o fim da fila da cantina, que estava excepcionalmente comprida. Devia ser dia de alguma celebração nacional, pois era a primeira vez que vendiam frango assado e por toda parte sentia-se o cheiro delicioso.  Ficamos com água na boca, porque fazia muito tempo que só comíamos sobras, mas sabíamos que para nós não haveria frango.
         De repente meu irmão começou a chorar, gritando que queria frango. Com medo de que o barulho irritasse os guardas vermelhos e de que nos pusessem para fora, deixando-nos sem comida alguma, fiz o melhor que pude para convencê-lo a parar de chorar. Mas ele, cada vez mais agitado, continuou chorando. Eu, de tão preocupada, também estava à beira das lágrimas.
        Nisso uma mulher de ar maternal passou por nós. Pegou um pedaço da sua porção de frango assado, deu ao meu irmão e foi em frente, sem dizer uma palavra. Meu irmão parou de chorar, e estava prestes a começar a comer quando um guarda vermelho veio correndo, tirou-lhe a coxa de frango da boca, jogou-a no chão e esmagou-a com os pés.
        “Seus filhotes de lacaios do imperialismo! Acham que também podem comer frango, é?” berrou.

        Então, refletiram? Tiraram alguma conclusão?
        Se quiserem, fiquem à vontade para comentar.



2 comentários:

Unknown disse...

Isso é muito triste, mas é interessante ler sobre outras culturas, mesmo que não seja de acordo com os costumes e preconceitos.

Unknown disse...

O radicalismo em qualquer situação é repugnante,por ser o poder na visão de quem considera que tenha que seu poder tem o direito supremos de sua lei.Por querer ter poder já é corrompido.A história do mundo já nos mostra o como começa e o até onde vai,mas o homem não foi feito para ser dono do mundo...acaba que adoece deste poder,corrompendo sempre a boa causa, se é que alguma vez houve.é bom ler,para se ter consciência,lucidez e sensatez.