quinta-feira, 30 de maio de 2013

UM SENTIDO PARA A VIDA



        Não podemos viver em vão. Ou viver cada dia, como os jovens inconsequentes fazem. Já que dispomos de uma única chance, temos que nos esforçar para encontrar um sentido para tudo o que fazemos.
        Hoje, feriado de Corpus Christi, acordei com vozes alteradas em frente ao prédio onde moro, conversas em voz alta numa madrugada fria e, ainda por cima, dia de dormir até mais tarde. Nenhum barulho de carro, mas conversas. Reconheci a voz de alguns vizinhos e a ficha caiu: como em todos os anos, eles estavam construindo os tapetes na rua por onde a procissão irá passar depois da missa, conduzindo a representação do corpo de Cristo, na hóstia. Durante vários anos eu e meus filhos ajudamos na tarefa, porque sempre tinha um na Catequese e a eles cabia um trecho do tapete. O caçula ia até sozinho, levantava cedo, mesmo não tendo o hábito, e ajudava de boa vontade. Hoje meu neto está na catequese, mas deve estar dormindo. Tudo muda e eu não sei se para melhor.
        Penso que não basta viver, temos que ter um sentido, uma dimensão, um objetivo maior de vida. Vivemos pra quê? Pra quem?
        Durante trinta anos me dediquei a formar jovens e a prepará-los para a vida profissional.
        Depois, assumi minha netinha recém nascida para os pais trabalharem mais sossegados.
        Agora que ela está maiorzinha, pude me dedicar mais e melhor à literatura, lendo e escrevendo bem mais.
        As viagens com o marido, as conversas e descobertas são períodos muito bons, verdadeiros oásis na rotina nem sempre leve.
        Os cuidados com a minha mãe continuam como prioridade, ainda mais que conviver e conversar com ela é extremamente prazeroso.
        Os filhos são hors concours, sempre a mola mestra da minha existência, tenham a idade que tiverem.
        O doce dos netos se multiplica e daqui a pouco estarei assumindo a outra pequerrucha na volta da mãe ao trabalho.
        Assim vou encontrando o sentido para esta vida, eternizada na fisionomia e nas peculiaridades dos descendentes e nos meus textos que circulam por aí e se concentram nos livros.
        O pijama macio, o roupão quentinho e o aroma do café fresco na cozinha não conseguiram afastar a culpa na consciência por não estar lá também, ajoelhada no asfalto, desenhando imagens que enfeitem a passagem do Senhor que, para mim, dá um sentido maior a tudo e a todos.


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