terça-feira, 30 de abril de 2013

CULTURA INÚTIL



     Em tempos de Alzheimer, vale tudo para tentar exercitar o cérebro e não perder a consciência de que estamos vivos, anulando nossa sobrevida e martirizando nossos familiares e amigos.
     Um dos hábitos que adquiri foi o de fazer palavras cruzadas sempre que sobra um tempinho. Se ajuda o cérebro não sei, mas certamente contribui bem pouco para minha cultura, como tentam apregoar.
     Mário Quintana, nosso emérito poeta gaúcho, em um delicioso livrinho de prosa chamado “A Vaca e o Hipogrifo” (1977), ajuda a desenvolver minha tese. Diz ele, na página 22:
“Palavras cruzadas?
     (...) o perigo das palavras cruzadas é nos inocularem às vezes, para todo o sempre, os mais estapafúrdios conhecimentos. Por exemplo, há duas semanas sou sabedor de que “rajaputro” significa “nobre do Hindostão, dedicado à milícia”. Espero, o quanto antes, esquecer tal barbaridade!”
     No meu novo passatempo, descobri, entre outras coisas, que:
     - poeta ambulante é aedo;
     - escudo é égide;
     - o maior artrópode do mundo é o caranguejo aranha;
     - origem, princípio é orto;
     - pintor alemão de Adão e Eva foi Durer;
     - o título do alto funcionário otomano é Bei;
     - juro exorbitante é Onzena;
     - ajuntamento de pessoas é Ror;
     - a tarefa do tecelão não é tecer, mas Urdir.
     Sem falar nas palavras em língua estrangeira, totalmente descontextualizadas.
     Enfim, é para humilhar? Ou para irritar?
     Meu programa de correção automática do Word sublinhou todas essas palavras, sinal de que ele também não as conhece.
     Matemáticos, mil perdões! Mas só podem ter sido criadas por alguém que calcula os quadradinhos, cruza as linhas, sem a preocupação de acrescentar alguma coisa importante ao cérebro que está ali fazendo sua ginástica.
    Fico irritada quando preciso “colar” das dicas, mas não tem outro jeito. Como saber essas coisas?!
     Então, quem sabe, assim como sugestão, pudesse ser inoculado algum conhecimento vital, útil, deveras significativo naquelas charadinhas, pois, afinal, o valor maior delas parece ser o de substituir a preocupação por ocupação.
     Ah, e se você não sabe que “Ian McKellen” é o Magneto em X-Men, sabe o que isso significa?!
     Nada.


Um comentário:

Elisabete Stolarski disse...

Verdade amiga, eu adoro fazer palavras cruzadas mas confesso que as vezes fico irritada com tanta inutilidade... como vamos guardar na memória sinônimos que nem conhecemos?