Dizem que, perante o Criador, somos
todos iguais; irmãos por conseguinte, já que filhos do mesmo Pai.
Você
acredita mesmo nisso?
Ou
será mais um conceito que lhe enfiaram goela abaixo desde que se entende por
gente e que, por costume ou obediência, você esqueceu de questionar?
De
tanto observar, minha cabeça já não está distinguindo bem as coisas. Tem horas
que acho minha cachorrinha muito mais humana que certas pessoas e vice versa.
Quando
vejo as atrocidades que certas figuras ditas humanas praticam, recuso-me a
considerá-las irmãs. Não sou irmã de bandido, não aceito esta irmandade, nem
para ser hipócrita.
Ao
passar por alguns moradores de rua, imundos, cheirando mal, alcoolizados, drogados,
novamente não consigo me ver pertencendo à mesma família deles, a não ser
depois que eles tomassem, pelo menos, uns dez banhos.
Pecadora,
orgulhosa, ou apenas sincera?
Pior
é quem jura que os considera irmãos e não faz nada por eles. Que fraternidade é
essa?!
O
mundo é vasto e diversificado, a televisão é que resolveu aproximá-lo e agora
ninguém mais se entende, uns querendo copiar os outros, ou julgando defeito
aquilo que é simplesmente diferente.
Quando
você vai dormir, na hora certa, com os dentes escovados, pijaminha cheiroso,
pensa que o mundo todo está se deitando também?
Pois
na mesma cidade existem cantores, dançarinos, atores, pintores, um mundo
noturno, um mundo à margem, um mundo camuflado que só se deita na hora em que o
agricultor levanta para cuidar da terra e do gado. Moradores de cidades
pequeninas assistem à passagem da vida calmamente, sem se ocupar com
problemas que cruzem suas fronteiras ou o limite da sua propriedade.
Uns dormem pouco, por boêmia ou necessidade de enfrentar um trânsito caótico
para trabalhar. Pegam várias conduções, ficam quase nada em casa; ao passo que
aqueles da cidadezinha mal saem de suas casas, já que é tudo tão
pertinho.
Garçons
de boates, feirantes, guardas-noturnos e a turma da terceira idade também têm
espinhos na cama, por profissão ou idade avançada, ao passo que jovens dormem
até mais do que necessitam, caso não sejam viciados em computador.
As
pessoas são diferentes, têm vidas diferentes, sonhos e rotinas diferentes,
mesmo as que pertencem à mesma família. É bobagem querer uniformizar o que, por
natureza, não é semelhante.
Respeitar
as diferenças é fundamental, embora seja necessário estabelecer um senso comum,
um referencial que nos distinga dos pré históricos e fundamente a sociedade que
formamos. Sem massificação.
Agora, por exemplo, enquanto escrevo, você lê, outro dança, alguém nasce, ou
morre, dorme, namora, chora, ri, compra, vende, viaja, se esconde, telefona, sente
saudades, se irrita, bate, apanha, grita, sussurra, geme, reza, enfim,
polaridades inconciliáveis que a globalização teima em juntar.
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