quinta-feira, 17 de maio de 2012

FUGA OU ENCONTRO?


               Quem convive com escritores, músicos, poetas, artistas de maneira geral, tem uma queixa frequente de que os mesmos se isolam, fogem ao convívio, fecham-se num mundo à parte.
                Não está de todo errado. Com certeza, esta é uma opção que limita a convivência, ou a interação, porque é até possível criar entre conversas, barulhos, etc., mas responder, participar das conversas já se torna mais difícil.
                Talvez este seja um dos motivos pelo qual tantos artistas prefiram a noite, as madrugadas, ou os alvoreceres para criar. É que a maioria das pessoas está dormindo e podemos finalmente espreguiçar a alma, de braços e pulmões bem abertos.
                  Para quem cultiva algum tipo de arte, seja escrevendo, compondo, tocando algum instrumento, a paz interior é fundamental, pelo menos uma paz dentro do caos que permita organizar as idéias, ou os sentimentos e manifestá-los.
                  Há que se falar também na necessidade real que os artistas possuem de se manifestar. Não me considero uma artista, quando muito um aprendiz; agora, dependendo do nível do estresse ou das dificuldades, sou capaz de infartar ou morrer sufocada se não puder escrever. Enquanto não exprimo em letras meus sentimentos e opiniões não os decifro, nem avalio adequadamente. Costumava dizer que respirava pela caneta, agora o faço pelo teclado do computador.
                   Quando toco piano, as mudanças na minha alma são claramente perceptíveis para quem me conhece ou tem algum poder de observação. Dependendo do meu estado de espírito escolho a primeira peça. Se estiver romântica ou "zen" começo por Chopin ou Beethoven; caso contrário prefiro Mozart, Zequinha de Abreu, Villa Lobos, Tchaikovsky. Depois, vou substituindo as partituras por outras mais tranquilas, mais expressivas até começar a tocar de ouvido as músicas de Piaf, evidenciando uma calmaria espiritual. O piano me acalma muito também.
                   O que quero evidenciar aqui é que as pessoas que se dedicam, ou necessitam de alguma forma artística de sobrevivência, nem sempre estão fugindo, ou nem só estão fugindo, mas estão tentando, mais do que tudo, se encontrar consigo mesmas. A arte favorece este encontro e aproxima os iguais.

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