sexta-feira, 9 de setembro de 2011

UMA CONVERSA COM DADINHO


A pedido: 

O Natal se aproxima e, com ele, o dia vinte e três de dezembro - dia do teu aniversário. Farias vinte e oito anos, se te tivessem deixado viver.
Lembras como eu e o Tibério ficávamos enciumados com o "montão" de presentes que recebias em apenas três dias?
Com a tua ausência, acabou a alegria dos nossos Natais. É verdade que cumprimos todos os rituais, desde o pinheirinho à ceia, para não privarmos teus sobrinhos dessa fantasia da infância.
Por outro lado, nossos natais são agora bem mais espiritualizados, pois rezamos muito, pedindo a Deus forças para suportar a tua falta.
E não é fácil, viu maninho! Tu fazes uma falta incrível em todos os momentos. Eras o caçula, o mais inteligente, o mais bonito, o mais alto, o mais simpático, o mais alegre e o mais querido de todos nós.
Nós sofremos uma perda irreparável com a tua partida, mas tu não perdeste grande coisa, não. Este mundo está uma porcaria, cheio de poluição, de miséria, de doenças, de ameaças nucleares e estão faltando pessoas como tu, simples e humanas, que digam e pensem coisas de fundamento e se preocupem menos com a "casca" que vão aparentar.
Teus sobrinhos estão crescidos e fortes e, em cada um, encontramos um traço físico ou de personalidade do tio querido que só o Luciano conheceu, mas que todos aprenderam a amar. O menor deles chama-se Eduardo, como tu, na esperança de sentirmos mais a tua presença entre nós.
Teus amigos andam por aí no mundo, vivendo as suas vidas, tentando esquecer a adolescência difícil que vocês tiveram, numa época de transição de valores, gritos de liberdade e asfixia de ideais.
Nosso Alegrete já está bem maior, muitas pessoas novas e progresso em diversas áreas. Mas a praça, a Mariz e Barros e o Oswaldo Aranha continuam lá, como tu deixaste.
Meu irmão, por mais que tivéssemos tentado, não conseguimos parar o mundo... e o sol continuou nascendo, os pássaros cantando e as pessoas vivendo da mesma maneira. Mas para nós - Vargas Ramos - houve uma mudança radical.
Não levaste teus discos, teus pôsteres, tuas roupas preferidas, porque não irias precisar deles nessa tua viagem. Entretanto, junto contigo, em todos os instantes estão, com certeza, os nossos corações.
Sei que não posso mais te desejar felicidades no teu aniversário, porém, isso não faz diferença, uma vez que essa palavra foi eliminada do nosso vocabulário no exato momento em que te tiraram a vida.
Até um dia DADINHO, quando nos reencontrarmos e eu puder te dar, finalmente, o imenso abraço que guardo , já há dez anos, para ti.
Deixa-me beijar teus cabelos encaracolados e te dizer quanta saudade eu sinto de ti.
Tua irmã que te adora.
                                        Baísa



 1984.

Um comentário:

celanira disse...

Maria Luiza, mais uma vez me emocionei, como sempre. E não importa quantos anos tenham passado. Saudade é a dor que fica do amor sentido. Obrigada.