domingo, 27 de junho de 2010

ESTRANHAMENTO

               Não sei se já aconteceu com mais alguém. Tenho umas esquisitices que são só minhas, no entanto, quem sabe os leitores com mais quarenta, ou cinquenta já tenham passado por situação semelhante.
                Às vezes não me reconheço nas vitrines por onde passo, parece que minha imagem jovem e magra cristalizou-se em minhas retinas. Quando percebo que "aquilo" sou eu, caio em profunda depressão. E como e bebo vinho  para a depressão passar.
                Durante a leitura, único momento em que uso óculos de  três graus, volta e meia os olhos escorregam para as mãos que seguram o livro e novamente me parecem ser de outra pessoa. Ainda ontem eram lisinhas, de cor uniforme, elásticas pelo piano, macias... quando foi que se encresparam e adquiriram estas manchinhas pequenas? Minha manicure me consola, elogiando-as e falando que estão ótimas "para a minha idade". Eu me consolo lembrando o quanto elas cuidaram de filhos, agora de netos e quanta coisa gostosa elas fazem na cozinha. Além do carro-chefe, é claro, que é o piano. Só que eu não me preparei para deixar de usar certos anéis, que já não cabem, ou para viver bezuntada de cremes.
                Não tenho filhas, ainda bem que tenho uma nora da minha altura e muito mais magra que herda as coisas boas e bonitas que vou deixando de usar.
               Todo domingo encho meus espelhos de bilhetes, reclamando dietas urgentes e muito exercício físico. Daí, na segunda, ou fico gripada, ou chove, ou venta, ou a Bruninha não tem aula, ou minha mãe precisa ir ao médico, ou tem jogo da Copa do Mundo, ou nesta semana tem o aniversário de alguém, ou vamos receber hóspedes, enfim, tudo conspira contra. E eu vou ficando assim, com excesso de tudo, inclusive de autocrítica.
                Bem feito!

Um comentário:

Luiz Barboza Neto disse...

Cara amiga ML,

Como a lógica bem diz: ninguém dá o quê não tem.
Como você tem muito dentro de seu mundo interno, pode se preparar para descansar cada vez menos no mundo das relações humanas.

Um grande abraço do seu fã,
Barboza