QUEIXAR-SE PRA QUÊ?

               Nos últimos tempos, a frase que mais sai de minha boca é : estou muito cansada!

               Não é fácil voltar a ser mãe depois dos cinquenta!

               Pois bem, faço tudo o que é preciso, atendo escolas, remédios, lanches, refeições, banhos, brinquedos, roupas e mil outras pequenas coisas, mas no fim do dia ... se a campainha ou o telefone toca fico em vias de cair no choro, afinal, é o único momento do dia (já de noite) em que posso ficar um pouco de pernas para cima, assistindo alguma coisa na TV, tomando meu chimarrão ou meu vinho, lendo.

                Hoje está sendo um dia particularmente  complicado, uma vez que Bruninha está resfriada, manhosa e Lucas também sobrou para mim. Pra completar, tenho dentista daqui a pouco, então, só passei aqui para desestressar mesmo, enquanto eles dormem.

                 Acontece que, observando o calendário pintado pelos artistas deficientes físicos, que pintam com a boca ou com os pés, senti vergonha do meu cansaço e das minhas reclamações.

                  No mês de abril tem um magnífico tucano, pintado com a boca por Luciano Alves, que exala algria de viver, entusiasmo e muita beleza. Fico imaginando este jovem pintor, sem os movimentos dos braços e das pernas, quiçá deitado, com o pincel entre os dentes e com energia para passar numa tela capaz até de sacudir uma mulher meio desanimada e cansada como eu estou hoje. Que superação!

                   Pois eu até o invejo, de certo modo, pois ele consegue tempo para fazer o que gosta, para se dedicar, se concentrar, sem se preocupar com horários e rotinas estafantes de gente jovem e cheia de compromissos. Pior quando esta "gente" nem é mais jovem...

                   Sempre lembro de uma frase lida não sei onde, nem de quem: " - Eu me queixava de não ter sapatos, encontrei um homem que não tinha pés!"

                   Quero agradecer a Deus a beleza e a saúde desses anjos deitados na minha cama, a vizinhança da  minha mãe querida com noventa anos, a proximidade dos meus filhos que já moraram tanto tempo longe.

                    Acho tudo isso maravilhoso! Não sei porque me sinto tão cansada...