sexta-feira, 28 de agosto de 2009

OUVIR O SILÊNCIO

O título não é metafórico, só quem tem uma obra ao lado do seu quarto pode entender a que me refiro. Num lindo terreno baldio, repleto de pássaros, estão começando a construir um espigão de mais de dez andares. Às seis horas da manhã as máquinas iniciam seu ritual macabro de escavar, apitar, acimentar, com gritos e músicas desafinadas cantadas pelos peões. Vez por outra a serra elétrica entra com seu ruído ensurdecer e desagradabilíssimo, marcado por marteladas a torto e à direita. Se eu ainda estivesse trabalhando fora pouco sofreria, já que passava o dia inteiro nas escolas. A questão é que estou aposentada e ainda cuidando de uma netinha que tem sobressaltos durante o sono pela pior vizinhança do mundo. Cadê meus noturnos de Chopin? Como afinar as canções de ninar a Bruna? Pois bem, o razoável seria dormir cedo para aproveitar a calmaria, uma vez que as máquinas já devem estar se coçando para reiniciar a algazarra. No entanto, se dormir cedo, quando poderei usufruir deste som melodioso do silêncio? Pela primeira vez, hoje à tarde pensei que não deve ser tão ruim ser surdo...

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