A rejeição, ou dificuldade de ler determinado livro nem
sempre é questão de despreparo, ou ignorância.
O verdadeiro “prazer da leitura” é tarefa para iniciados e
tem um valor inestimável! Por ele passa, ao lado de muitas e variadas leituras,
o gosto pessoal.
Terminei, com bastante esforço e empenho, a releitura de “Cem
anos de solidão”, que consagrou e enriqueceu Gabriel García Marquez, mas que, a
meu ver (perdoem se blasfemo, meu 6.1 me autoriza) poderia ter sido escrito em
cento e poucas páginas, ao invés das 447, sem grandes perdas.
No livro é descrita a saga de várias gerações, sendo que em
todas as gerações encontramos um mesmo nome - Aureliano – e lá pelas tantas já
não sabemos se o texto se refere ao pai, ao filho, ao avô ou ao sobrinho, o
que, na verdade, não muda em quase nada o enredo.
Vou copiar uma citação para você ter uma ideia melhor:
“Talvez ninguém falasse
de outra coisa durante muito tempo, se o bárbaro extermínio dos Aurelianos não
tivesse substituído o assombro pelo espanto. Embora nunca tenha identificado
como presságio, o coronel Aureliano Buendía havia previsto, de certo modo, o
final trágico de seus filhos. Quando Aureliano Serrador e Aureliano Arcaya, os
dois que chegaram no tumulto, manifestaram a vontade de ficar em Macondo, seu
pai tratou de dissuadi-los. Não entendia o queriam fazer numa aldeia que da
noite para o dia havia se transformado num lugar de perigo. Mas Aureliano
Centeno e Aureliano Triste, apoiados por Aureliano Segundo, deram a eles
emprego em seus empreendimentos.” (p. 275)
São 447 páginas com menos de meia dúzia de pausas (não
capítulos) para a gente respirar, sendo que há, no máximo, dois parágrafos por
página, o que torna a leitura mais cansativa e difícil de ser interrompida.
Com certeza tem passagens geniais, se assim não fosse, não
teria alcançado o sucesso que detém até hoje.
Ninguém é feliz na historia e nada acaba bem para nenhum dos
tantos personagens. Parece que a premissa de que finais felizes só criam historias
bobas, de uma literatura de segundo escalão, continua valendo.
Além das dificuldades citadas, o vocabulário rebuscado às
vezes nos obriga a correr ao dicionário (o que não deixa de ser um bom exercício).
Alguns exemplos: amêijoas; retrete;
clavicórdio; daguerreótipo; quenopódio; pessário; suspicazes; pulcritude.
Então, vai encarar?!
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