sexta-feira, 20 de junho de 2014

ENVELHESCÊNCIA




                        Toda mudança de fase da vida é acompanhada de incertezas, oscilações de humor, medos, desconfianças e alguns arrependimentos.
                         Na “envelhescência” isso tudo adquire um caráter ainda mais marcante e não são poucos os paliativos utilizados para nos enganar. Ou tentar, pelo menos.
                         Nascemos sem querer e morremos em data e condições desconhecidas. Esse início e fim de vida já deixam bem claro o pouco ou nenhum domínio que temos sobre a existência, tudo independe de nós, ou acontece indiferentemente à nossa vontade.
                        Entre os dois pontos da vida cada um faz o que pode, o que consegue e, às vezes, o que quer.
                       Muitos se anestesiam num ritmo frenético de trabalho que lhe rende mil coisas, menos felicidade.
                      Outros se entregam à letargia, à tristeza, ao “não vale a pena” e passam pelo mundo sem deixar marca nenhuma.
                      A gente foge dos pensamentos tristes, da efemeridade de cada ser que amamos e aos quais dedicamos a nossa melhor parte.
                     A vida precisa ser mais vivida que pensada, para se tornar suportável. E os serviços domésticos, braçais, que exigem algum esforço físico são um oásis de calmaria para a nossa cabeça pensante.
                     Não sei se suportaríamos envelhecer apenas refletindo a vida. Penso que seria cruel demais...
                     Por isso, há que se trabalhar, que se dedicar a projetos ou a pessoas, ocupando o corpo para aliviar a mente e, assim, ter uma envelhescência menos sofrida.
                     Mesmo vivendo de ler, pensar e escrever, sou adepta de tudo que distraia nossos pensamentos, desde conversar com crianças, assistir programas leves na TV, até organizar a casa.
                     Não dá para viver só pensando, não dá mesmo! É muito perigoso chegar a um ponto onde tudo e nada se explica e nos vemos sozinhos, perdidos , assistindo os castelos ruírem, as ilusões se perderem, as razões evaporarem.
                    E as tantas dietas? E as economias? E os adiamentos? E a saudade? E o “um dia”?
                    Tudo passa rápido demais.
                    O bom e o belo diminuem dia a dia e o mau e o feio aumentam na mesma velocidade.
                   Será que valeu a pena? Os sacrifícios não foram poucos. E a recompensa? Virá? Já veio? Passou?
                   Essas mãos... ainda ontem eram os velhos da família que as possuíam, assim, com essa pele marcada pelo tempo. Hoje sou eu.
                   Os cabelos, o rosto, o corpo, tudo mudou tão rápido que nem percebi.
                   Daqui a pouco serei velha.
                   Hoje envelheço.
                   Queira ou não.






Um comentário:

gilzinha disse...

É isso mesmo, com maior ou menor serenidade, de parede com o inevitável! Sinto dentro de mim a juventude que teima em não me deixar, o que faço então?!
esse texto abaixo é a tradução enviesada desse sentimento!
http://gilzinhatotalalone.blogspot.com.br/2014/08/estou-com-medo-soasvezes-quero-ser.html