Assim a ONU descreve os povos indígenas: “As comunidades, os povos e as nações indígenas são aqueles que, contando com uma continuidade histórica das sociedades anteriores à invasão e à colonização que foi desenvolvida em seus territórios, consideram a si mesmos distintos de outros setores da sociedade, e estão decididos a conservar, a desenvolver e a transmitir às gerações futuras seus territórios ancestrais e sua identidade étnica, como base de sua existência continuada como povos, em conformidade com seus próprios padrões culturais, as instituições sociais e os sistemas jurídicos.”
E qual é a situação desses povos em nosso país? Invadidos, desrespeitados, corrompidos, desassistidos, doentes, esquecidos até mesmo pelas instituições criadas para protegê-los.
Os irmãos Villas-Boas, tributários das ideias do Marechal Rondon, mostraram uma intensa preocupação protecionista e preservacionista relativamente aos povos indígenas, procurando, contudo, interferir o mínimo possível na vida e na organização social desses povos. Foi com base nessas premissas que eles conduziram pacificamente o contato com todas as tribos indígenas da região do Xingu e lá implantaram uma reserva (Parque Indígena do Xingu), cuja intenção básica foi proteger e resguardar os povos indígenas de contatos indiscriminados com as frentes de penetração de nossa sociedade.
Os ianomâmis são um grupo de aproximadamente 35.000 indígenas que vivem em cerca de 200 a 250 aldeias na floresta amazônica, na fronteira entre Venezuela e Brasil. Eles viviam embrenhados na floresta, como sempre viveram, tirando das matas e dos rios a sua subsistência, fortes e saudáveis, porque não tinham contato com as doenças das cidades e do homem branco. A década de 1970 foi marcada por grandes projetos do governo do Brasil que tiveram grande impacto sobre os ianomâmis: a construção da rodovia BR-210, programas de colonização pública e o projeto Radambrasil, que detectou importantes jazidas minerais no território ianomâmi. A descoberta dessas jazidas levou a uma grande invasão garimpeira no período de 1987 a 1992, atraída pelas reservas de ouro, cassiterita e tantalita, com a ocorrência estimada de 1500 a 1800 mortes entre a população ianomâmi, em função de doenças e de atos de violência causados por 45 mil garimpeiros que invadiram suas terras.
Agora, aqueles fortes guerreiros, cantados nos romances de José de Alencar e na poesia de Gonçalves Dias, estão doentes, subnutridos, fracos, passando fome ou comendo peixes contaminados pelo mercúrio dos garimpos, padecendo de malária e vendo sua floresta sendo aos poucos devastada pelos garimpeiros, pelas queimadas e pela derrubada das árvores. A cobiça e a má gestão estão dizimando esses que foram, indiscutivelmente, os primeiros habitantes da nossa terra e, por isso mesmo, deveriam ser preservados em seus direitos e respeitados em sua forma de viver.
Os índios precisam de uma floresta viva, de rios de águas limpas, de aldeias isoladas dos vícios do homem da cidade, pois eles se alimentam exclusivamente de alimentos retirados da natureza (peixes, carnes de animais, frutos, legumes e tubérculos); costumam tomar banho várias vezes por dia em rios, lagos e riachos; os homens saem para caçar em grupos e fazem cerimônias e rituais com muita dança e música.
Respeito, cuidado e preservação. É disso que os nossos índios precisam!
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