A pandemia de Covid-19 abalou a humanidade de uma forma avassaladora. Todas as idades foram afetadas, cada uma de uma maneira e se tornaram reféns desse coronavírus, que simplesmente riscou do mapa o ano de 2020.
Desde o começo fomos alertados de que o vírus seria mais perigoso para os mais velhos e para quem já tinha alguma doença preexistente. Então, o jeito seria isolar os idosos, privá-los do contato com o mundo e com a família no afã de protegê-los. Imaginamos que seria por pouco tempo, como outras epidemias que logo eram combatidas. Os avós morreram de saudades dos netos, os filhos assumiram as necessidades dos pais, sempre acompanhando a subida do gráfico de infectados no mundo e em nosso país e depois o número crescente e assustador de vítimas fatais do tal vírus.
Aos poucos, doloridamente, fomos entendendo que a doença era bem mais perigosa do que parecia, que os médicos não sabiam como tratá-la, que os medicamentos existentes não surtiam efeito e que as pesquisas com vacinas eram demoradas, como têm mesmo que ser, e ainda nada conclusivas.
Some-se a isso gente inescrupulosa roubando as verbas endereçadas ao combate da pandemia, rixas políticas envolvendo medicamentos e outros pormenores e teremos um retrato caótico de tudo o que esse ano fatídico tem representado para nós.
Se está ruim para as crianças, para os jovens e para os adultos, imagine para a terceira idade!
De um dia para outro, adultos ainda fortes, produtivos, donos da própria vida foram rotulados como “grupo de risco”, proibidos de sair de casa, afastados dos amigos, dos encontros, das reuniões, das academias e dos netos, sob o pretexto da proteção. E muitos jovens aproveitaram para não precisar mais visitar seus pais e avós, livrando-se da obrigatoriedade das visitas.
Pintar e cortar os cabelos no salão virou pecado mortal, fazer as unhas, escolher os produtos no supermercado nem pensar! Até as consultas médicas periódicas, tão importantes nessa tal de “melhor idade” foram canceladas. Dentistas, laboratórios, farmácias tudo virou “antro de contaminação”. Olhar as vitrines, frequentar a igreja, mexer o corpo nas aulas de ginástica foram terminantemente proibidos. E o corpo foi doendo, enrijecendo, avolumando...
Primeiro os idosos resolveram organizar os armários, jogar papel fora, plantar, cozinhar, pintar e bordar; depois leram todos os livros da estante, frequentaram as redes sociais, assistiram filmes e séries na TV, dormiram e acordaram cada vez mais tarde até que começaram a cansar...
Com a autoestima cada vez mais baixa, a terceira idade foi perdendo a vontade de sair, de se indignar, de ter medo de tudo e de todos e resolveu dar de ombros, com saudade da própria alegria de viver, lamentando não poder mais ver o sorriso no rosto das pessoas, sempre mascaradas, e sem entender porque tinham que passar por tudo isso numa época da vida em que todos esperavam colher os frutos do tanto que plantaram, fazer as viagens sonhadas e para a qual economizaram durante anos, acompanhar todos os eventos festivos dos filhos e netos, encontrar os amigos em alegres cafés e piscinas movimentadas, enfim, num momento da vida em que a luta parecia acabada e os ares sopravam mais serenos veio a pandemia e estragou tudo. Castelos ruíram, amigos partiram absurdamente e um ano inteiro foi de reclusão, de temor, de “sem gracice” total.
Sem prazo para acabar, segue a pandemia e seguem os temores da terceira idade, que se equilibra numa corda bamba, tentando evitar o contágio e torcendo muito para que nenhum dos seus queridos seja infectado também.
Dizem que não há mal que sempre dure.
Oxalá o dito popular se cumpra!
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