- Ei você! Que gripe forte hein?! Esse negócio de exigir
demais do corpo e das emoções costuma baixar a imunidade mesmo. Ainda bem que
tomaste a vacina! Percebo tua luta para não tossir, nem espirrar nas horas
impróprias e, mesmo assim, te vejo sorrindo para as fotos. Parabéns!
Sorte mesmo deste lá na tua terrinha, sempre com sol, até
com um certo calorzinho em pleno inverno e nada de gripe, nem cansaço, só
emoção e emoção! Eu percebi como te sentiste “gente”, atuante, incluída,
inteira no meio do teu povo, sem aquele anonimato pálido da tua outra vida.
A conta chegou depois da longa viagem... mas aí já não
importava tanto, porque para arrumar álbuns e lembranças não é preciso estar em
plena forma. Falando nisso... engordaste um pouco hein?! Assim, fica difícil
achar um ângulo bacana para as fotografias. Paraste de lecionar, de dançar, de
viajar, quase não sais de casa e vives com a cabeça cheia de letrinhas... deu
nisso! Teu cabelo está mais rebelde, mais difícil de ajeitar, os olhos
diminuíram (ou foram as pálpebras que desceram?) e só voltas a ser tu mesma
quando sorris. Ainda bem que sorris bastante. E que tens a maturidade de
publicar as fotos pela relevância do momento e não apenas aquelas em que te
achas melhor.
Eu estava lá quando avistaste o teu rio Ibirapuitã, ainda de
madrugada, e teus olhos o enlaçaram com ternura!
Acompanhei teus olhos saltitando em volta da Praça Getúlio
Vargas, bem como fazias na tua infância. Percebi também teu olhar perscrutando
as paredes do teu colégio Oswaldo Aranha, os muros compridos dos namoros, as
escadas, o mastro da bandeira, os pátios bordados de azul marinho e branco. Até
a amoreira da entrada da escola, responsável por manchar tantas blusas do
uniforme tua memória afetiva enxergou.
Ah, e ouvi as batidas frenéticas do teu coração momentos
antes do teu discurso de abertura da Feira do Livro. Quando a jovem leu tua
crônica “Banzo” achei que não ias conseguir desatar o nó da garganta, nem
evitar que teus olhos transbordassem. As unhas cravadas nas palmas das mãos
ajudaram bastante.
Vi tua alegria com as homenagens, os aplausos e os olhares
de carinho e admiração dos pequeninos e também dos maiores, que faziam teu
coração bater faceiro. Senti tua emoção nos abraços dos amigos de tão longa
data e tudo isso certamente será um combustível precioso que guardarás por
muito tempo no lugar das emoções.
Também te vi engasgar no discurso na Sessão da Câmara de
Vereadores, quando decidiste encerrá-lo com a última estrofe do Canto
Alegretense. Achei que não conseguirias terminar... mas conseguiste!
Fui contigo na tua casa, me escondi no meio da bergamoteira
e vi teus olhos passeando saudade em cada recanto do velho solar, povoado de
lembranças. Parece até que havia certa algazarra de crianças brincando por ali...
mas não, estava tudo quieto, quieto demais.
Andei contigo no cemitério, ajeitando com cuidado cada flor
no túmulo dos teus queridos que já partiram. A lágrima e a prece são comuns por
lá.
Finalmente te vi arrumar as malas, pesarosa de deixar
novamente teu torrão natal, carregando tantas lembranças, tantos mimos, tantos
sorrisos, tantas palavras de ternura que encheriam, não uma mala, mas um
container de emoções.
Chegaste doente. De saudade e de gripe.
Acontece que a Literarte chegou logo atrás e te sacudiu, te
premiou, te chamou a cerrar fileiras com os que não vivem sem escrever, como
tu.
Percebi claramente o borbulhar das tuas emoções quando a voz
dos teus queridos vibrou no alto-falante da Assembleia Legislativa do Estado de
Santa Catarina, te enchendo de carinho, homenagens e elogios. Cada voz amada
era um nozinho a mais na garganta e um véu transparente a nadar nos olhos. Mãe,
marido, filhos, noras e netos a falarem contigo e para ti e tu ali no palco,
ouvindo surpresa e mordendo os lábios, com o coração sapateando no peito. Inesquecível,
não é mesmo?!
Pensas que não vi teu pensamento voando no jantar temático?
Anos 60... final da década e auge da tua adolescência, depois do debut em 1967.
Estavas um pouco tímida, o corpo desacostumado, mas eu não! Bailei desde o primeiro
agudo da Celi Campello, rodopiando com aqueles pares super especiais lá da
nossa terrinha.
Sabe, quando te olho, às vezes lembro da tua avó Odith, em
outras da tua mãe Conceição, de repente pareces com a tua irmã Yara, também com
o filho mais velho Luciano, ou com a netinha mais nova, a Lívia. Sei lá. Acho
que és um pouco camaleoa, porque nem sempre sei bem quem tu és.
E eu, sabes quem eu sou?!
Nem desconfias?
Eu sou você, sou tu, sua boba! Só que do lado de dentro,
daquele que não deforma, nem envelhece e que só os amigos verdadeiros e as
pessoas que nos amam reconhecem, pois para eles o exterior importa bem menos.
- Ei você! Alegrete e Florianópolis te judiaram bastante
hein?! Mas só de coisas boas! De emoções positivas e reconhecimento.
Parabéns pela colheita do que semeaste durante tantos anos!
3 comentários:
Esse teu dom é divino!Lindo texto, me emocionam as tuas palavras...como sempre sabendo expressar essa loucura de sentimentos em sinceras recordações.Me tornei fã dos teus textos e peço para que nunca deixe de nos encantar com tamanho talento. Todo o sucesso do mundo, tens toda minha admiração.
Muito obrigada pelas palavras generosas. É um prazer tê-la por aqui!
Querida amiga escritora, Maria Luiza, adorei o seu texto. Lindo. parabéns
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